BRASILEIRO NÃO DESISTE. NUNCA!
A noite havia atirado seu manto sobre os últimos raios de sol. Passava das seis. Zefino futucou os bolsos da calça desbotada, nada havia no interior dos mesmos. Sentia falta de um bom prato de comida. As panelas enfumaçadas jaziam vazias sobre o fogão a lenha.
Sobre o colchão rasgado estirado no chão, os três meninos com os olhos esbugalhados, pareciam fantasmas, as barrigas roncavam tanto, que ao longe se ouvia. Já não mais pediam comida; sabiam que não havia nada dentro do barraco que fosse comestível.
Até mesmo o gato preto que sempre rondava por ali, percebendo a situação drástica, resolveu sumir da área antes que pudesse virar churrasco. Os três famigerados haviam tentado capturá-lo pela manhã, enquanto o pai procurava, em vão, por um bendito emprego, seja qual fosse, desde que lhe rendesse ao menos o do feijão da janta, já que a mulher acamada em nada podia ajudar.
Toda sua batalha de nada adiantou. Seis meses desempregado. Tudo que recebeu no último emprego gastou para acertar as contas e encher as panelas, que agora só serviam para os meninos fazerem batucada.
Zefino não conseguiu dispersar seus trágicos pensamentos. Sem que os meninos percebessem abriu a caixa que estava sobre o guarda-roupas, tirou de dentro sua garrucha enferrujada, botou na cintura e saiu decidido a resolver a situação.
Já era tarde quando empurrou a porta barulhenta do barraco, jogou ao chão o saco de mantimento, o bafo da Tatuzinho percorreu todo o ambiente. Acendeu um cigarro, assoprou uma baforada. Respirou aliviado e triste. Havia cometido o seu primeiro assalto.
Saulo Campos
Itabira MG