Meu vizinho morreu
Infarto, pobre infeliz. A morte ceifou ao lado da minha casa, e incrivelmente me senti um pouco mais vivo.
Eu nem falava com ele, mal olhava na cara do sujeito, de fato; Ele para mim era nada mais nada menos do que uma pessoa que eu nem dava um bom dia... E ele também não ia muito com a minha cara, mas morrer daquele jeito deve ter sido horrível. O cara não fumava, nem bebia, pelo contrário; jogava bola, e tinha só 16 anos. Fiquei sabendo do acontecido quando vinha da casa de um amigo meu... Vi inúmeros conhecidos de vista no ônibus, e todos olhavam pra mim. Só então quando cheguei em casa é que fui saber que o garoto tinha se encontrado com o unico mal irremediável. As pessoas devem ter me olhado e ter pensado: “porque ele não foi ao enterro?” Oras, eu nem falava com o rapaz, pelo amor de Deus! Posso ser muitas coisas, mas hipócrita não é uma delas. Não falava, e, portanto, não fui. É justo.
Mas esse fato me fez pensar mais sobre a vida, e sobre o quanto ela pode ser passageira, e terminar abruptamente como um filme partido.
As ultimas palavras do garoto (segundo dizem) foram: “Pai, eu tô morrendo. Diz a Raiane que ela é o amor da minha vida”
Creio que ele nunca deve ter dito isto pra ela em vida e na hora da partida, aos 46 minutos do segundo tempo ele resolveu dizer... Ou já tinha dito antes, não sei, o fato é que foram as ultimas palavras que a boca dele disse antes de partir rumo ao desconhecido; a barreira que separa o fim do começo, ou vice-versa.
Quando soube do fato, das ultimas palavras dele, isso mexeu comigo. Não sei, mas por algum motivo aconteceu. E por um momento, eu me pus no lugar dele, do Lucas (já em terras distantes); e cheguei à conclusão de que eu faria algo como isso, ou parecido, bem parecido, aliás. A menina ficou arrasada e danou-se a chorar, o irmão que não falava com ele por causa de fofocas e conflitos alheios, sentiu-se arrependido pelo irmão ter morrido sem falar com ele.
E teve toda uma absolvição com as coisas que ele podia ter feito de errado ou não. O rapaz virou praticamente um santo numa fração de tempo que até me assustou.
Segundo já ouvi dizer: “Deus prefere os suicidas”. Deus não prefere os suicidas, mas tem um amor especial por todos aqueles que morrem de repente.
E junto com a morte daquele garoto, creio que foi um pouco de todos aqueles que gostavam dele.
Pensei nisso ontem, e vi que as nossas passagens por aqui são um tanto quanto rápidas, tanto que a maioria das pessoas não tem tempo de realizar metade dos projetos a que se dispõe a fazer.
Que sonhos ele devia ter?
Ser um grande jogador, ser soldado, ou simplesmente ser ele mesmo, e ao invés disto... Morreu. Infarto aos dezesseis anos.
Quais seriam as minhas ultimas palavras?
O que diriam a mim?
...É algo que não sei. Mas que um dia eu irei descobrir .
Marcos “Tinguah” Vinícius