DARLENE 'sin aforo'
Simplesmente Darlene, ou "Darlín", no bom inglês, quase igual se fala darling. Apesar de ter nome de música, ninguém nunca reconheceu, só porque é um som lado B. Se achava escritora, não tinha certeza de onde estava seu talento, perguntou para alguém: "como faço pra aflorar minha habilidade pra escrever?" e esse alguém, tão cruel, respondeu-lhe: "não é uma questão de aptidão, qualquer um pode escrever, basta ter um olhar de soslaio" e ali morreu um pedaço de Darlene: a única coisa que a moça acreditava ser hábil, qualquer um o fazia. Gostava de desenhar, mas não sabia nem botar o ponto de fuga no papel... Definitivamente, pra desenhar, tem que ter talento. Engrenhou-se no mundo da música, com voz de taquara rachada, só sabia tocar apito, preferiu ser apenas admiradora. Descobriu que as admiradoras nunca são reconhecidas pela simples e pura capacidade de admirar, todos só endeusavam as instrumentistas e cantoras... Sentiu-se excluída. Pra cantar, tem que ter talento. Sentia-se em vantagem por ser bilingue, até o dia em que viu a Elke Maravilha dar uma entrevista em latim, russo, inglês, francês, alemão e outros 7 idiomas não-identificados. Nos bares, deparou-se com as cantoras, os instrumentistas, os pintores, os filósofos, os oradores, os gênios, pena não ter engenhos para ser querida e aceita por qualquer um desses talentosos. Na escola, todos tinham suas aptidões particulares, só ela era mediana em tudo. Até tentou ser puta, mas era púdica demais para topar um ménage. Mesmo pra ser meretriz, tem que ter talento. Darlene, quase igual darling, aos 18 anos declarou-se vadia, reclusa e marginalizada. Escreveu no seu diário que a única coisa que todo sem-talento quer, é um buteco pra fumar, beber e respirar.