CRÔNICA – Probidade administrativa – honra – ética, moral, honestidade e magia

 

CRÔNICA – Probidade administrativa – honra, ética, honestidade e magia  – 18.05.2011

 

            Não estava nas minhas cogitações fazer qualquer crítica aos nossos governantes, esses que comandam os destinos desta nação já tão desmoralizada, que vem se deteriorando a cada dia em que o ex-puro Partido dos Trabalhadores vai tocando o barco sem ligar para o que é ético, honesto, honrado e moral.

            Não que eu disponha de provas cabais (eu até nem quero acreditar) sobre este ou aquele ilícito que eles praticam com tanto requinte e quase perfeitos álibis, mas estou escrevendo em cima do que noticia a imprensa, da maior à menor e mesmo na internet e blogs de escritores amadores e/ou profissionais.

            A bomba desta vez estourou na cabeça do ex-prefeito, deputado, líder da campanha política do PT e agora o mais importante ministro da Casa Civil, o competente Antônio Palocci. Sim, por que se não fora de alta habilidade também com os números jamais poderia multiplicar seu patrimônio por vinte em apenas quatro anos. O problema, é óbvio, está no valor do apartamento que ele comprou, da ordem de R$ 6,6 milhões, pagos em apenas duas prestações (R$ 3,6 milhões, mais R$ 3 milhões). Coisa de milionário.

            Nada explica, não diz a origem do dinheiro, mas apenas que o ganhou de maneira honesta, pois prestando assessoria e consultoria a empresas de alto poder econômico – e queira Deus que nessas não estejam incluídas as estatais --, até porque segundo os seus colegas de partido existe, em cada contrato, uma cláusula de confidencialidade, segredo, quero dizer, em que tudo é possível às partes menos dar publicidade aos atos. Se os praticou como ministro não poderia; como deputado também não, porquanto recebendo mensalmente o dinheiro do cidadão não pode dele esconder suas atividades e ainda mais quando as menciona honestas.

            Pude assistir pela TV – SKY a reunião de terça-feira do Senado Nacional. Constatei que as fracas oposições estão perseguindo a abertura dessa caixa preta (pior do que a do avião francês naquele fatídico vôo que matou mais de 200 pessoas no fundo do mar, mas que fora achada e certamente será decifrada).  Mas o discurso dos camaradas do Palocci imediatamente já fecharam a matéria e não vão deixar nem que ele compareça ao parlamento para dar explicações; alguns até, e não sei como conseguiram tais dados, afirmaram que ele, Palocci, tudo declarara à Receita Federal, ou seja, está tudo correto, nada a apurar. Querem que a oposição prove (aquela história do ônus da prova, que cabe a quem alega), mas os bens adquiridos são o atestado legítimo disso.

            Do presidente da Casa, a raposa José Sarney, que já fora alvo de muitas divergências e acusações em sua carreira política, ouviu-se que em matéria de comissão de ética da Casa tudo está devidamente esclarecido. Um parêntese para dizer que esse cidadão é tão poderoso, tão ardiloso, que conseguiu colocar sua filha, Roseana Sarney, como governadora do Maranhão, mesmo ela tendo perdido as pertinentes eleições, como candidata do DEM, e além do mais se transferira para o PMDB. E ainda falam que o mandato é do partido, durma-se com uma zona dessas. Isso pra não falar no processo em que ela se envolveu na campanha presidencial em que estava praticamente eleita, do que não quero mais falar.

            Sabe, quando me lembro da minha época de funcionário de carreira de um banco estatal; das oportunidades que perdi de ficar milionário, e me confundo com a vida de um cidadão brasileiro da classe média, fazendo cálculos para pagar prestações mensais de compras feitas a prazo para criar e educar a família chego a pensar em ficar arrependido, mas uma coisa está acima de mim, qual seja a educação que recebi do operário Severino e da doméstica Maria: “Honestidade, acima de tudo, meu filho”, e se uma herança eu deixar para a minha família essa é a única de real valor.

            Pra não me alongar muito, pois não é o meu propósito cansar meus leitores, vou contar apenas um pequenino caso: Gerenciava uma agência em Campina Grande, na Paraíba, grande cidade, de clima ameno e que vale a pena ser visitada por turistas desse gigante Brasil, além do que é um pólo de desenvolvimento sócio-econômico-cultural.

            Pois bem, um proprietário de uma empresa de laticínios, muito cordato, prestativo e educado, passou a mandar pra minha casa todos os dias queijo e leite, a título gratuito. Minha mulher logo me falou da oferta “sem pretensões”, tendo de mim recebido a incumbência de anotar tudo e no final do mês me passar a quantidade recebida. E isso fora feito. De posse dos dados, eu fazia os cálculos e depositava o dinheiro na conta de depósito da firma, guardando os recibos, pois o meu faro de administrador me dizia que o sujeito iria tentar se utilizar do artifício pra conseguir negócios irregulares na minha gestão.

            Não demorou muito e as propostas impossíveis começaram a chegar (bom dizer que ele mandava produtos também para os dirigentes do banco em Brasília e deles se tornara amigo). O mesmo que dizer que eu iria ficar em palpos de aranha. Não dei bolas, comecei a indeferir suas propostas, até por que não se enquadravam nas normas regulamentares, mas se eu fosse bonzinho as mandava pro escalão superior e o empréstimo sairia. Se fossem normais nada impediria que as deferisse.

            Assim é que, para encurtar a história, ele foi ficando magoado com isso e passou assim como a exigir que o dinheiro saísse de qualquer maneira. Minha resposta: Olha meu amigo se você está pensando que eu vou lhe favorecer por conta do leite e do queijo que me manda todos os dias (que eu nunca pedi), desculpe-me, mas eu deposito o competente valor na sua conta de depósitos... E lhe entreguei cópia dos recibos, que também foram remetidas à direção geral do banco.

 Ele nem pediu licença, engatou uma primeira e saiu com a gota serena do meu gabinete. Mas quando eu fui promovido para a capital João Pessoa o danado conseguiu que o banco cancelasse e eu fui parar na gerência de Aracaju, linda capital, promovido, claro.

Vou ficando por aqui, pois isso é só um exemplo, tem muito mais. Não sem antes dizer da minha preocupação de que esse tal Conselho da República passe a ter força maior do que o nosso TSE, que anda meio adoidado ultimamente.

           Repito: É por essas e outras razões que tenho vergonha de ser brasileiro.

Ansilgus.

Em revisão.

Fonte da foto: GOOGLE

ansilgus
Enviado por ansilgus em 19/05/2011
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2979719
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