MALDADE EXTREMA

O frio chegou a Belo Horizonte de repente, com a temperatura caindo até 13, l4 graus à noite, o que levou os mineiros a retirar dos baús indumentárias próprias para o inverno, blusas, pulôveres, cachecol e agasalhos diversos com que enfrentar a queda nos termômetros.

Com a friagem piorou a situação dos moradores de rua, pobres mendigos sem teto e sem lar, que vivem perambulando à cata de trocados e sobras de comida, na sua luta inglória pela sobrevivência. Se já era ruim com o tempo bom, piorou com a baixa temperatura e o sofrimento desses irmãos desamparados aumenta bastante. À noite, então, quando buscam locais para dormir e meios de se aquecer do frio cortante, enfrentam a fome, o vento e a falta de caridade da maioria das pessoas.

Pois foi assim que oito desses pobres diabos se juntaram no dia 16/05/11, ao cair da noite, numa praça do Bairro Santa Amélia aqui na capital mineira, onde costumavam dormir à beira de um foguinho. A noite prometia ser bastante fria e eles esfregavam as mãos, buscando se aquecer. Não demorou muito e adormeceram, cansados de mais um dia de sofrimento, exauridos e varados de fome.

Pela madrugada, um desalmado passou por ali e, propositalmente, deixou uma garrafa de cachaça com o tal de “chumbinho”, um veneno para matar ratos bastante conhecido para combater tais roedores. Largou a garrafa bem à vista e ao alcance do grupo e sumiu, protegido pelas sombras da noite.

De manhãzinha, pessoas que passavam por ali notaram os mendigos vomitando e se contorcendo em dores, todos passando mal e imediatamente chamaram os médicos do “SAMU”, os quais chegaram rápido e viram a garrafa de pinga quase vazia. Um simples exame visual percebeu restos de cachaça e “chumbinho” no fundo, o que comprovou o envenenamento dos infelizes. Como se não bastasse a vida difícil que levavam, sem casa, sem alimento, sem amor, sem carinho, sem parentes e amigos, ainda foram vítimas da maldade extremada do ser humano, se é que se pode chamar um desnaturado desses de “ser humano”.

Levados ao Pronto Socorro, todos eles foram internados e lutam contra a morte até hoje, enquanto a polícia ainda não tem pistas sobre o autor da quase chacina. O ocorrido lembrou-me um fato acontecido nos anos 60, quando a polícia de Carlos Lacerda, recém eleito Governador do Estado da Guanabara, encetou uma odiosa campanha de combate aos moradores de rua no Rio de Janeiro. Mendigos eram recolhidos por veículos oficiais à noite e jogados no Rio da Guarda, afluente do Rio Guandu, morrendo afogados, numa tentativa das autoridades de “limpar a capital guanabarina” da pobreza existente nas ruas! ...

Como se vê, o espírito de Hitler ainda povoa as mentes e os corações de muitas pessoas por todo esse mundo de meu Deus! ...

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B.Hte., 18/05/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 18/05/2011
Reeditado em 18/05/2011
Código do texto: T2978410
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