LOIRO, ALTO E OLHOS VERDES
POEMA:
“Você não sabe como é grande a virtude de ser feio
Pois, se alguém simpatiza com você
Já sabe que foi por outra razão que não a tua beleza”
Charles Bukowski
Eu tenho olhos verdes...
O cara foi fazer um tur pela Europa
Mas o cara era cego, pô...
Oxe! Pra ele tanto faz sair ou não de casa pra se distrair
O cego tem essa virtude de não ter a vaidade de fazer turismo
No seu imaginário ele pode ir a qualquer lugar
Se você não pudesse ver
Iria se preocupar menos com a vaidade das coisas
E mais com a dignidade dos homens...
O cheiro
O gosto
O tato
O sexo... Seriam mais sinceros!
Não haveria uma estética para abalar a ternura
Do que eu poderia sentir muito mais
Mas, quando abro os olhos em plena manhã
Vejo-a sendo abraçada pelo sol
Que lhe dar um beijo e lhe vira as costas
Correndo desesperado pra transar às escondidas com a escuridão
O dia é um sujeito infiel... Que traição!
Quer descobrir a fidelidade da noite?
Mata o teu sono ao anoitecer e vai desfrutar
Dos prazeres sombrios de bares e de ruas vazias
Mas na mesma manhã em que os pássaros cantam;
O mar brilha apanhando da claridade do céu;
O ar frio e gostoso;
O senhor vende o leite;
E o menino vende o pão...
Eu posso ver, ao olhar as coisas belas
Que a beleza não vale nada
E tudo que é feio perdeu o seu valor
Só porque se esqueceu de passar batom!
A estética é uma pobre coitada
Que vive na mesa de cirurgia plástica;
Já a virtude, coitada, não sai do coma
A UTI é o seu lar doce lar
O que inferniza tua vida não é o teu olho
E sim a tua maneira de enxergar
Enquanto isso,
A cara do medíocre anda por aí zanzando
Coberta pela máscara da virtude... É só uma máscara!
Se um belo rosto sofre queimaduras de terceiro grau
Isso não quer dizer foi queimado o coração
O valor da virtude não dorme estático na estética e na aparência
Mas anda por aí desgovernado muito além de uma moldura
Belo não é o quadro, mas o que ele retrata!
Ó... e se você olhar direitinho
Ou melhor, se fechar os olhos,
Verás que a beleza é feia pra caralho!
Eu tenho olhos verdes... e daí?