É preciso saber ser pedra ou areia

Acumulamos experiências durante a vida. Um exemplo são os anos vividos na faculdade, e é exatamente na faculdade que ocorre uma das maiores transformações em nossas vidas. Passamos da areia para a pedra e, na maioria das vezes, não conseguimos lidar com essa transformação.

A coisa é mais ou menos assim: estou cursando a última fase do meu curso e já há bastante tempo foi possível perceber que quase ninguém se atura mais. O que acontece? Acontece que nos endurecemos, nos tornamos uma pedra de granito, dura, pesada. A pressão psicológica desses quatro anos de faculdade deixa qualquer um louco. É família, filhos, amigos, festa, trabalhos, seja da faculdade ou o emprego. E todos nós temos culpa nesse processo. Não paramos para ouvir nossos amigos, tornamos nossas individualidades, nossas mentalidades, nossos projetos, nossas ideologias, nossos problemas em coisas maiores do que a convivência coletiva. Uns procuram meditar, mas quando voltam ao mundo real vêem que nada mudou. Outros rezam, outros se revoltam, alguns largam tudo sem se importar e todos continuam pedras de granito. Cada questiúncula que levamos para a sala de aula vamos logo desabafando, como se fôssemos o umbigo do mundo. Porém, isso pode ser saudável.

Mas há um problema em tudo isso. As outras pessoas na sala de aula que já se tornaram pedras de granito contribuem para acelerar o processo que também irá transformar os outros. Nós talvez não percebemos, mas um risinho sarcástico, um cutucão discreto no colega ao lado (quando outro está se expressando), uma palavra dita pelas costas, tudo isso contribui para transformar as pessoas em pedras de granito. Nós nem nos damos conta que aquela ‘pequena’ ofensa dita sem querer (porque já somos pedra e não sabemos) vai afetar diretamente o amigo ao lado, que já é pedra. Começam aí os problemas.

Uma pedra granito é dura, mas pode ser cortada, rachada, esmigalhada. Nossas palavras e atos são as marretas que batem na pedra. Cada marretada dada tira uma lasca, deixa a sua marca. E agora chegamos ao ponto principal: uma pedra granito em bom estado, mesmo lascada, marcada, ainda serve de sustento, de base para a construção. Porém, se batermos demais na pedra granito, ela racha, esfarela, não serve para uma boa base, para sustento. Vai ser usada como aterro, talvez para uma calçada, vai ser pisoteada e segurar todo o peso dos problemas alheios para sempre. E é isso que nós fazemos, “homens e mulheres umbigo”! Entramos na faculdade como areia, maleável, mas mesmo a areia possui torrões, rejeitos, precisa ser peneirada para ser um bom reboco, por exemplo. A areia precisa ter qualidade para poder se juntar, se misturar aos outros elementos que irão dar substância à casa. As impurezas, como o barro, comprometem a sustentabilidade da obra. Passamos da areia a pedra e por isso precisamos saber conviver com isso. Como areia, unimo-nos as pedras, sustentando-nos mutuamente. Deixemos as marretadas a cargo dos construtores, pois sendo areia e pedra somos iguais nas diferenças que nos levam ao mesmo fim, a boa conclusão da obra.

É isso. Talvez na próxima vez eu fale do cimento e da água. Talvez eu “malhe o pau” nos construtores...

Falei bonito? Parecem aquelas coisas de auto-ajuda! Então tá, vou “auto-ajudar” as pessoas! Quem sabe eu escreva um livro, ganhe bastante dinheiro e me transforme num construtor?! Iria ser duca! Valeu! E não se esqueçam: é preciso saber ser pedra, mas também é preciso saber ser areia. Uh!...

Wagner Fonseca – 23/09/04

WF Morales
Enviado por WF Morales em 18/05/2011
Código do texto: T2977709