Gravidade
Sabe, a realidade é assim, nua e crua, posso dizer que mais crua do que nua, pois ela vem em um prato de prata, com o sangue ainda escorrendo pelas bordas da bandeja, além de o másculo continuar pulsando vermelho e cheirando a frigorífico. Porque não dizer que ela também pode estar mais nua do que crua? Tão nua e amostra, que fechamos os olhos, rezando, para quando os abrir ela tenha ido embora ou, ao menos, se metamorfizado em algo mais bonito para se ver. Há sentimentos que nascem mesmo sem terem nomes, ou seus nomes são uma mistura de vários outros, formando neologismos que por não terem um sentido coletivo, acabem só tendo sentido para nos mesmos e, dessa forma, nos fazendo voltar ou ponto zero, tendo em vista, a impossibilidade de haver comunicação. Quem sabe, se falássemos alemão teríamos a oportunidade de conseguir dizer o que sentimos, ou talvez deva ser apenas só mais uma baboseira da filosofia. Quando se sabe que a dor de morrer nem sempre é a mesma de deixar viver, e se têm a consciência de que a realidade se apresenta nua e crua, e em proporções desproporcionais, tornando o ato de respirar já não tão comum, fazendo o sentir já não só ter sensações e o andar não só ser ir para frente, e assim, tudo vai ficando em rede, misturado em pensamentos e compreensões, que nem sempre lhe deixa em um eixo de equilíbrio confortável. E sem a menor duvida, nasce, cresce e morrer, se compreendendo em ciclos que podem refazer-se em si mesmos, sabendo que a cinza é o adubo do começo e o começo nem sempre estar no sentido do ciclo passado.
Talvez seja durante a infância que temos os melhores momentos, pois tudo nos é bastante claro, e a certeza do pouco já e suficiente para ir ao colégio, comer, dormir, brincar, fazendo e refazendo esse ciclo todos os dias, repetidas vezes, por anos, sem precisar nem saber onde tudo vai dar. É durando o processo de amadurecimento, que raramente acontecesse de forma lenta e gradual, como normalmente é narrado por professores, é que descobrimos a realidade crua e nua. São em momentos específicos, e não graduais, que somos visitados, sem aviso prévio, pela vida. Ela vem e nos dar duas bofetadas na cara e nos faz crescer aos pontapés. E assim seguimos com medo e a passos maiores que as pernas, porém seguimos, fazendo ciclos e mais ciclos, alguns viciosos, outros libertários. E assim, em saltos, descobrindo como a vida é nua e crua. Mas é assim que ela é.