MINHA INFÂNCIA E A SANTA.



Hoje, acordei com muitas lembranças de minha meninice! Sei lá se sonhei com algo que me fez despertar com tanta nostalgia, desse tempo mágico que era ser criança, em uma vila de operários de uma grande companhia de papel e celulose. Por conta disso vivíamos em uma reserva florestal linda!

Ah, essa época do ano me leva a mais recordações dessa fase tão boa. O ar fresco do outono, e as noites de céu rendado de estrelas, me remetem aquela vila simples e acolhedora.
Mês de maio era época da Santa fazer peregrinação em todas as casas, vinha ela carregada em uma pequena procissão pelos moradores e se instalava em nossos lares. Com que alegria me lembro que recebíamos a bela imagem decorada com flores frescas. Minha mãe nessa ocasião ainda estava viva, e preparava a casa com capricho para acolher a Santa de sua devoção.
A mesa da sala de jantar, foi o local que serviu de altar para a visita tão esperada. E durante à semana que ela foi nossa hóspede de honra, todas as noites as mulheres da vila, vinham rezar o terço, e pedir saúde e harmonia a todos os moradores daquele lar.

Eu, me sentia muito importante. Na escola tinha muito o que contar, pois afinal a Santa estava hospedada em minha casa. As amigas me rodeavam na hora do lanche pra me ouvir contar imaginosas histórias a respeito da ilustre visita.
Saia da aula correndo e voltava pra casa, onde meu primeiro pensamento nessa semana especial, não era o almoço delicioso que minha avó preparava, mas sim, a hospede Santa.
A tarde, ia ao quintal colher flores fresquinhas, para colocar no altar montado em nossa sala para Ela.
Voltava com um buque de dálias de todas as cores, cachos de rosas-caipira, avencas.
E ficava esperando entre uma brincadeira e outra, dar seis horas em ponto, para as rezadeiras de terço, começarem as orações.
Nesse momento, eu, pegava um terço nas mãos e me ajoelhava contrita, repetindo tudo que via as beatas fazerem. Mesmo sem saber rezar o terço, coisa alias que nunca aprendi.
Ah, mas, representava muito bem.

No dia em que a ilustre hóspede ia embora de nossa casa, meu coração se apertava, pois sentia uma vibração doce e serena naquela imagem ali instalada. Mas, logo me animava, pois com a vela acesa na mão, eu acompanhava a procissão que levaria a Santa, até a próxima casa da vila para hospedá-la.

Nesse pequeno trajeto as luzes das velas balançando ao vento nas mãos de todos que acompanhavam a pequena romaria, concorria palidamente com o rendado brilhante da colcha que havia no firmamento. Eu, olhava ora pra luz bruxulenta da vela que carregava, ora para o céu que cintilava um mar de pontinhos prateados, e uma alegria sem fim tomava conta do meu coração.

Eu, era feliz !


Lenapena
Enviado por Lenapena em 18/05/2011
Reeditado em 13/11/2011
Código do texto: T2977541