TOUR
29.06.2005.
Fico imaginando como seria mágico e diferente a um fraiburguense (Fraiburgo, cidade do meio-oeste catarinense) passar uns dois meses na cidade do Rio de Janeiro.
O sotaque seria a primeira coisa reparada; muito diferente. Depois estranhariam os nomes de muitas coisas e não compreenderiam muitas gírias. O jeito cantado de se falar aqui no Sul em conflito com o R carioca e o S com som de X no fim das palavras.
Não ouviria mais PIÁ, sim moleque; os TCHÔS, sim os caras; LAZARENTO, sim o filha da p... Ouviria: e aí mermão, beleza? Coé? Já é? Vou te bater um papo reto! Se liga na parada! Sinistro! Não seria mais chamado a ir a um BAILÃO, sim a um forró ou a um baile funk. Os “tchôs” trocariam “os maluco vão me levar num esquema neurótico, funk só lazer...”
Não veriam mais as casas de madeira tão lindamente pintadas no padrão fraiburguense de tom sobre tom, passaria a ver muros pixados, casas e marquises invadidas por vândalos noturnos e perceberia nas pixações a existência de algumas facções do tráfico de drogas.
Passaria a ver casas apinhadas pelos morros, umas 400 favelas e comunidades (só conheço um bairro no Rio sem favela: Urca, onde mora o Rei), e tão logo veria o caos causado pela guerra do tráfico: facções contra polícias, facções contra milícias, facções contra facções pelo domínio de outra favela; A Ks 47, lança granadas, helicópteros da polícia pairando sobre as favelas, pondo em risco a vida de moradores honestos e trabalhadores; pessoas corrrendo em desespero pelas ruas a procura de um abrigo e vítimas da violência urbana dando entrada no Miguel Couto, no Souza Aguiar e outros tantos.
Se encantaria com o comércio, os enormes centros comerciais, lojas e camelôs da Uruguaiana, o Saara e a Central do Brasil no centro. Madureira, Campo Grande, peças de carro em São Cristóvão e Acari (essa última, conhecida feira ROBAUTO), feiras de Caxias e Copacabana, feira hippie em Ipanema, os mais de 50 shoppings, entre eles o maior da América latina: Barra Shopping e ainda veria os megas supermercados 24 horas: Extra, Carrefour, Sendas e etc.
O caótico trânsito em todos os cantos da cidade, nas vias de acesso ao centro e zona sul. Engarrafamentos constantes e diários nos mesmos lugares, na Avenida Brasil, na linha Vermelha, na saída da Washington Luis, linha Amarela, Avenida das Américas, avenida Presidente Vargas, Avenida Rio Branco e outras tantas. Veria fumaça, sujeira, poluição visual e sonora nos terminais rodoviários municipais; uma quantidade de quase 8 mil kombis e vans fazendo o transporte coletivo alternativo, uns 25 mil táxis e uns 7 mil ônibus de quase 50 empresas de ônibus.
Geada? Nunca! Talvez nas serras do interior do estado, em Itatiaia por exemplo, mas estamos falando da capital onde o carioca considera estar muito frio quando as temperaturas chegam aos 18 graus, pois acostumados estão com as praias e termômetros entre 34 e 40 graus. Lindas praias, aliás.
Música de todos os gêneros: funk, clássica, forró, pagode, MPB, sertaneja, eletrônica, hip-hop... as “gauchescas” não mais.
Raramente veria as loiras legítimas de Fraiburgo, com raras exceções nos bairros nobres e um percentual ínfimo pelo subúrbio; como também raramente os olhos claros, azuis e verdes já tão acostumados em Fraiburgo. 60% ou mais de negros e pardos. Muita tatuagem, piercings, jeans rasgados, pessoas sem camisa. Os sobrenomes alemães e italianos raríssimas vezes; sim os da Silva, de Souza, Carvalho, de Oliveira, os portugueses em geral. "Loiras de farmácia” aos montes! Rastafaris, implantes afros.
Quantidade absurda de obesos.
Idosos nas praças jogando baralho, damas e xadrez.
Pivetes e mendigos cheirando cola, fumando crack na luz do dia próximo de policiais; vendedores ambulantes nos ônibus e nas ruas, pedintes em todos os cantos.
Manifestações pelo centro da cidade, brigas pelos bares da boemia, prostitutas e travestis na Central do Brasil, na Cinelândia, na Tiradentes; crianças nos sinais fazendo malabarismos com limões em busca de “um troco aí tio!”.
Enfim, uma cidade de trabalhadores e marginais misturados; de muito luxo e de muita miséria; cidade de mil faces, inúmeras opções de lazer, diversão e o caos causado pelo “encontrão” da riqueza com a pobreza.
Lá não veriam os fraiburguenses, os pés de maças, o pinhão, as araucárias e outras tantas frutas. Nunca procure vergamota: peça tangerina; chimarrão e a educação onde aqui é parte da vida da maioria também raramente.
Mas conheça, visite, passe uns dias na Cidade Maravilhosa!