São Paulo de Piratininga
 
 


Antigamente chovia todo final de tarde em São Paulo. Era a tal da garoa... Depois ela acabou (hoje são tempestades), mas sofríamos com as variações climáticas. Frio de manhã, calor durante o dia e esfriadas súbitas acompanhadas de vento lá pelas cinco ou seis da tarde. Passávamos por todas as estações no decorrer de vinte e quatro horas. Eu ia cedinho para o colégio bem agasalhada, na volta trazia casaco e malha, tudo nos braços. De manhã minhas mãos roxas chamavam a atenção no ônibus, na volta era o rosto afogueado e o nariz vermelho que impressionavam, o que fazia a então adolescente morrer de vergonha.
 
Eu ficava intrigada, pois somente naquela região da cidade acontecia isto. Um pouco além, para lá ou para cá, era sempre mais quente e o tempo constante. Seria castigo?... Ou puro azar?...
 
Foi mais tarde, bem mais tarde, que pude entender. E a compreensão veio através da leitura de crônicas sobre os primórdios do Brasil... Depois de fundar a vila de São Vicente e lá ficar uma boa temporada, auxiliados pelos índios os portugueses subiram a serra por trilhas no meio da mata. Descansaram na borda do campo e depois seguiram pelo Planalto de Piratininga. Os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta resolveram então construir um colégio e a capela num penhasco ali nas proximidades dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, que além da água forneciam comida farta e transporte fluvial.
 
Lugar tão fresquinho nunca antes haviam encontrado nessas terras calorentas! Ai que saudades de Portugal, devem ter pensado...
 





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