OBRIGADA²!!

Em 13 de março de 1968, por volta de 19horas, eu e minha família chegamos à rodoviária de Linhares, que ficava mais ou menos em frente onde hoje se localiza o Banco do Nordeste. Caminhamos até a rua Boa Vista e nos dirigimos àquela que seria nossa primeira casa nesta cidade e, também, a Junta do Serviço Militar comandada pelo meu pai.

Na manhã seguinte, ficamos envolvidos aguardando e arrumando a mudança, mas na parte da tarde eu desci a ladeira e fui conhecer um local lindo, bem pertinho da minha nova morada. Disseram-me que se tratava de uma obra do prefeito anterior, Anthenor Elias: a praça 22 de agosto, mais conhecida como “ pracinha dos bichos”.

Logo na entrada viam-se brinquedos de ferro pintado, tais como escorregadores, balanços, gangorras, escada inversa, e um que eu adorei: um poste de cujo topo desciam correntes com terminações de argolas, onde nos pendurávamos, tomávamos impulso e, rapidamente, girávamos com os corpos livres no ar.

Um pouco mais à frente ficava uma espécie de lago, tendo no centro uma fonte. Por toda área, árvores frondosas davam sombra gostosa e sob elas nós brincávamos fazendo castelo de areia ou alimentando os muitos pombos que ali moravam. Disseram-me que os exemplares do lado direito foram plantados por crianças que estudavam com Therezinha Durão Costa, no primeiro Jardim de Infância da cidade. Por falar nesse tipo de escola, a praça da minha época também tinha um, bem perto da casa do Sr. Valdir e Dona Diva Durão: o Menino Jesus, onde muitos profissionais de hoje aprenderam as primeiras letras.

Um pouco mais para frente ficava o minizoológico, onde podíamos ver antas, capivaras, jaguatiricas, araras, papagaios e macaquinhos. Jamais me esquecerei de que quase perdi a ponta do indicador direito quando meu miquinho predileto, o Chico, confundiu o tamanho do chocolate que eu, habitualmente, lhe dava.

Por trás da praça ficava a Prefeitura Municipal, hoje Casa da Câmara, e o Fórum. Na frente dela localizava-se a quadra de esportes, onde algumas vezes assisti aos jogos dos times de futebol de salão da época, e lembro-me bem dos irmãos Ademilson e José Carlos Araújo, além do Arísio do Banestes, como bons jogadores. Na gestão do prefeito Antônio Muniz dos Reis, durante um carnaval ele decidiu cobrir a quadra e promover uma matinê de carnaval para a criançada, tendo como banda alguns integrantes da Lira 08 de dezembro, e eu pulei muito, embora já fosse uma mocinha.

Alguns anos depois o Prefeito Luiz Durão fez uma reforma bacana na praça, murou-a e ela passou a lembrar, um pouco, o Parque Moscoso em Vitória. Nela foram construídos módulos e diziam que eles eram destinados a serem a biblioteca e o museu Lorenzutti... De fato, como o fórum antigo fora demolido um pouco antes, as construções acabaram virando o recinto de julgamento de crimes e também o cartório de registro civil. Isso, de certa forma, descaracterizou a real utilização da praça em dias de semana, mas não impediu que ali fossem promovidas boas gincanas entre as escolas por ocasião da festa do município, que aos sábados ela fosse cenário perfeito para fotografias de casamentos, e que aos domingos fosse o parque predileto de muitas crianças linharenses, dentre elas as minhas.

Depois, meus meninos cresceram e a vida me envolveu em tantas coisas que eu me esqueci da praça. Soube que ela andou feiosa, que passou a ser palco de consumo de drogas, não sei... Fiquei muito tempo sem frequentá-la.

No dia 14 de maio de 2011, fui assistir ao ato de inauguração da revitalização da praça e fiquei extasiada com tudo. A praça está linda, moderna, charmosa, agradável, arejada, um monumento condizente com a história que ela encerra. Certamente ficará mais linda quando as árvores podadas voltarem a ficar frondosas.

Creio que nosso pioneiro e maior benfeitor de Linhares, “vovô” Quincas Calmon, aprovaria a reforma, assim como “tia” Dulce Campos Pestana o fez. Ela que viu a praça nascer, assistiu a todas as suas transformações, passou por vários prefeitos, aos 94 anos, falou a Guerino Zanon aquilo que muitos de nós queríamos dizer: “Obrigado, pela sensibilidade, pela decência e por ter atendido os anseios do povo de Linhares!”

Emocionei-me com sua declaração de amor ao prefeito e à sua família, mas cheguei às lágrimas quando, posteriormente, encontrei, num cantinho perto da plataforma de meia lua, uma plaquinha com o nome do meu pai: Espaço Lúdico Tenente Nilo. Sei que essa homenagem provém da lembrança e da aquiescência de pessoas amigas, mas creio que a iniciativa deve ter nascido de uma colega da Serlihges, uma querida professora de Português.

Então, em nome de memórias queridas que se renovam na nova Praça 22 de agosto e do orgulho que ora sentimos, todos nós, os descendentes dos Franco Nunes; só me resta dizer: Obrigada, Guerino Zanon! Obrigada, Dona Arlêne Campos!

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 17/05/2011
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T2976304
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