PANDEIRO E VIOLÃO

"Parece até que o sentimento , hoje em dia, desapareceu

E o amor que é tão bonito nas pessoas

Pra muitos, morreu (...)

Eternidade é uma porta especial sempre além de nós

E especiais são as pessoas que se amam

E não vivem sós"

(Airton Valentim)

Na vida existem aqueles que têm o dom de ensinar. Airton Valentim é uma dessas pessoas.

Com ele eu tive o privilégio de aprender o pouco de artes marciais que sei, luta de braço, sinuca, totó e pandeiro... só não aprendi a tocar violão por pleno desinteresse meu. Mas muitos jovens aprenderam essa terna arte de tocar viola com o velho amigo Airton. Sempre me pego por aí em bancos de praças e mesas de bares, escutando as músicas que ele ensinou aos seus aprendizes tocarem.

O que seria da vida se nos faltassem os professores?

Também soube por outro amigo que, hoje em dia, ele anda dando aulas gratuitamente de mecânica em tubulação aos jovens da cidade do interior de onde somos – Macau RN. Pois é, um cara sozinho, assalariado, consegue fazer isso, enquanto uma prefeitura que recebe cerca de três milhões de reais por mês, deixa faltar até a merenda escolar das crianças... vai entender!

Airton é só mais um desses excelentes cidadãos que merecem honras, pois ensina pelo prazer de ensinar... assim como “Marujo”, pai de um outro amigo, e tio do Airton, sei lá... parece que é isso... que, pelo que sei, foi um de seus professores. Afinal, sozinho, ninguém aprende nada... ou aprende? Claro que aprende? Mas o Airton teve a sorte de, também, ter encontrado o grande “Marujo”, um artista nato.

Boêmios como só nós dois somos, sempre nos encontramos nos bares da vida: eu com uma cerveja, um tiragosto e uma prostituta; ele, com uma cerveja e uma viola... isso basta pra que a sua noite seja feliz. Daí que sempre lhe peço para tocar “Tudo Outra Vez” do Belchior. Me lembra a época de estudante retirante do interior:

“há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa (...)

gente de minha rua, quando eu olhei distante (...)

E vou viver as coisas novas

Que também são boas.

O amor, humor das praças cheias de pessoas...

Agora eu quero tudo

Tudo outra vez(...)”

Eu baixo a cabeça, choro, depois a ergo e volto a curtir

Nada tem mais mérito que o prazer de ensinar. Os olhos de quem quer aprender brilham quando esse alguém é ensinado, assim como os olhos de quem quer ensinar, choram diante do orgulho de ver os olhos de quem aprendeu brilhando por se ter aprendido. Não há recompensa, pagamento ou penitência... É isso que torna o aprendizado mais sincero.

O maior professor é aquele que sabe ensinar o aluno a ser um extraordinário autodidata. É isso que ele faz de forma sublime. Como diria minha vó: ele dá o anzol e não o peixe!

Você sabe de onde vem o termo pedagogia? Na Grécia antiga, quando surgiu o elemento escola, quem levava as crianças até o colégio eram os escravos, no caminho, eles conversavam e os escravos lhes ensinavam tudo que os jovenzinhos perguntassem. Assim, enquanto na escola eles aprendiam matemática, como andarilhos acompanhados pelos escravos, os garotos aprendiam sobre a vida. Por isso o termo pedagogia. Sendo uma palavra que tem origem na Grécia antiga: paidós (criança) e agogé (condução). Assim sendo, pedagogia quer dizer, etimologicamente: criança que é conduzida.

De qualquer forma, na verdade, só tem valor uma pessoa que ensina, quando, quem aprende,consegue se engrandecer. E se hoje eu sou um cara maior, parte disso devo a você, meu caro amigo, Airton.

Um salve a todos que se sentem no dever de ensinar. Uma vez que a verdade de quem ensina é a verdade da vida, pois vida sem aprendizado é como uma morte sem sepultura!

E como diria Boileau: “meu pensamento se abre e se expõe em plena luz, e meu verso, mal ou bem, diz sempre alguma coisa”. Ou seja, o meu verso ou minha prosa, pouco importa, devem muito àqueles que me ensinaram: Por isso a ti, Airton Valentim, lhe devo o maior OBRIGADO de todos. Um salve a você, cara... e que DEUS te cuide dos males da vida com o escudo da bondade e da sabedoria.

Enquanto isso, lá está o bar com uma mesa vazia, duas cadeiras e uma garçonete loira, gostosa e faceira, esperando nós dois nos sentarmos para prosear e ela nos atender balançando o seu belo traseiro de mulata! Vamos lá, cara... pegue a viola, eu pego o pandeiro e a gente faz aquele sambinha gostoso pras "cabôcas" dançarem! Topa?