Cotidiano - a hora do rush.

Aos grandes amigos deste recanto. É o grande barato deste site. Poder expressar um sentimento ou opinião, comentar sem tanto receio sobre algo que, tenho certeza, muitos pensam, mas não expõem. Adotar uma postura diferente da que de fato se pensa ou espera, não significa falso-moralismo. É o que dá graça à vida e aos seres humanos.

Cidadania? Cidadania não é sacanagem mesmo. Do que adianta você planejar teu dia pra que as coisas saiam de acordo com aquilo que você acha mais adequado pro teu bem-estar, se no transcorrer do roteiro dele sempre acontece algo pra dar errado?

Neste dia acordei mais cedo (com um mau humor terrível) com um único intuito; chegar mais cedo no trabalho. Motivo? Precisava sair mais cedo. Também compensei na hora do almoço pra ganhar alguns minutos, uns 10 ou 20 já são suficientes. O porquê disso tudo? É completamente inviável sair na hora do Rush de uma grande cidade, quando a maioria dos cidadãos economicamente ativos está retornando pra casa após um cansativo dia de trabalho. 20 minutos antes que você saia fazem uma enorme diferença, já que, como você saiu um pouco antes do que o povão, você consegue evitar conduções que mais parecem latas de sardinha ou pacotes de pão plusvita com data de validade vencida, e engarrafamentos estrondosos. Trabalhei... Trabalhei... Trabalhei... (nossa, como a gente trabalha nessa vida), então saí apressadamente e caminhei com passos largos em direção ao ponto rotineiro. Chegando lá aguardei mais ou menos 5 minutos, até que minha condução passou. Ao embarcar a satisfação pelo planejamento concluído com sucesso. Alguns lugares ainda, poucos, mas um já é o suficiente pra que você não sofra em pé até sua casa. Ao sentar dá quase pra ver estrelas de prazer, já que seu dia foi cansativo, mas pelo menos você irá relaxado neste dia até em casa, diferente dos demais anteriores dias da semana. O lugar é no corredor, mas já está bom de mais, ainda assim é possível ver pela janela do passageiro vizinho, o desespero do lado de fora dos passageiros que ainda vão embarcar assim que o ônibus pára no ponto seguinte. Um “corre-corre” insano, um “empurra-empurra” louco numa disputa frenética pelo embarque primeiro no ônibus, o motorista aguarda pacientemente saboreando um saquinho de amendoim com casca. O ônibus - como todos os dias - começa a encher e encher. Bom, um dia é o da caça, o outro o do caçador - penso com um ar de satisfação - alguém terá que sofrer com horas em pé no engarrafamento. Dá pra notar a expressão de pesar na face daqueles com menos sorte. Parecem mais estarem indo a um enterro do que retornando ao aconchego do seu lar. O passageiro ao meu lado chega a roncar, o da frente lê um livro, o de traz escuta seu MP3, e vamos que vamos. São duas horas até em casa. É nessa hora que o ônibus pára novamente e que entra pela porta um único passageiro... Um somente! Ninguém mais entrou nesse ponto, somente ele, um velhinho capenga, já devendo ter seus 82 anos (no mínimo) com uns óculos de grau acentuado – esses que aumentam os olhos dando a impressão que a pessoa possui poderes, a minha tia tem poderes – uma bengala caprichosamente lustrada e uma bolsa/carteira no colo. A expressão é de um velho cansado/sofrido, o caminhar é de alguém doente/vivido. Só que não tem mais lugares! Até o banco pra idosos está ocupado por pessoas de óculos escuros que dormem profundamente como estátuas (agora também existem bancos para obesos), em um desses bancos tem alguém com a cara dentro do jornal (dentro mesmo) ou tem 65% de miopia, ou a notícia é extremamente interessante, mas logo na parte político-econômica??? Tem gente que gosta! Nem em pé tem mais lugares. É muito engraçada a reação das pessoas, inclusive a minha procurando também meus óculos escuros na mochila ou querendo um jornal de esportes pra meter a cara dentro. Buá, eu não trouxe nada pra passar o tempo! O que a falta de experiência faz com as pessoas! Segue a viagem... Poxa, o ônibus tem 42 lugares sentados e 279 ou mais (dependendo do motorista) em pé, não é possível que o velhote vá parar justamente ao meu lado, já que estou sentado bem lá atrás; velhos não vão lá pra trás (você imagina). No rosto das pessoas as mais diversas caras, no entanto, as mais legais são as de torcida para que o “cara de maracujá” não estacione em pé aos seus lados. Não! Isso não irá acontecer... Ele não está vindo cá pra trás... Ele não vai parar do meu lado... Ainda falta 1 hora e 45 minutos de viagem. Pensa rápido, pensa rápido. Mas o que pensar nessa hora dentro de um enlatado humano? O que aquele velhinho está fazendo bem na hora do rush na rua? Na rua não, dentro de um ônibus abarrotado! E não somente dentro de um ônibus lotado, mas da droga do ônibus que eu estou!!!

Seria trágico se não fosse cômico, já diria o filósofo! E ele olha bem, tosse duas ou três vezes, espirra uma e pára justamente do meu lado. Ele tem uma baita cara de coitado pidão que só velhos em ônibus abarrotados em hora de rush sabem fazer. Um grito por dentro é dado... NÃÃÃOOO!!! (o grito é meu tá)

Novas caras surgem, e essas parecem dizer: “_não vai dar o lugar pro velhote não?” O Falso-moralismo ao qual me referi.

Caramba, nem cheguei a esquentar o meu lugar... Pra onde você olhe neste momento parece ter gente olhando pra você fazendo a mesma pergunta.

Assim é possível respirar fundo, levar as duas mãos ao rosto, refletir um pouco e...

O final você escolhe

Prof Cristiano Cruz
Enviado por Prof Cristiano Cruz em 17/05/2011
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