Fui à casa do Quibe, como costumo sempre fazer, por volta das 19,00h., ontem, domingo, e me encontro com a velha guarda de Miracema. A turma com seus setenta bem vividos, com exceção do ainda jovem Francisco, com seus 50 anos, atento às estórias dos mais velhos, depois que deu sua "cutucada", para que contassem sobre o futebol de antigamente. Ficaram na minha mesa os advogados Fernando Nascimento, Vandim, personagem assíduo nas minhas crônicas, o já citado Francisco, dono do Restaurante “Snob’s e o médico Dr. Carlos Sergio Barbuto, radicado desde jovem em Miracema, mineiro, de Eugenópolis, cidade grudadinha em Muriaé. Todas elas quase vizinhas de Miracema.
Depois de sessão de piadas de judeus e árabes, todas favoráveis aos árabes, afinal, estávamos na casa de um Libanês, a conversa derivou para o futebol. Não o futebol de hoje, mas o futebol do tempo dos setentões. Todos eles jogaram futebol, e bem, na juventude. Fiquei sabendo como os juízes do interior sofriam, quase sempre apanhavam muito no fim de cada jogo.
O caso mais pitoresco de juiz, contou o Carlos Sergio, lá na cidade dele, em Eugenópolis. O time da casa com dificuldades de fazer o gol, o juiz resolveu dar uma ajudazinha. Marcou um escanteio, não satisfeito inventou um segundo e um terceiro, todos seguidos. E a bola não entrava. Depois do terceiro escanteio, ouviu-se a voz de um jogador do time da casa: “Ô seu Juiz, não vai marcar o pênalti? Três escanteios seguidos é pênalti.” Era o que o juiz estava esperando, na mesma hora o árbitro colocou a bola na marca fatal e, finalmente, saiu o gol da vitória. O Vandim pede a palavra e diz que apitou algumas vezes, mas sempre com um revólver 38 na cintura, para não apanhar. E, por isso mesmo, nunca apanhou da torcida.
Fiquei sabendo do Brazinho, jogador do nível de Pelé. Foi para o Rio de Janeiro, mas não conseguiu se adaptar à cidade grande, retornou logo para a sua terrinha. Os coroas chegaram a dizer que o Flamengo veio a Miracema, no tempo do canhotinha Gérson. O Brazinho não queria jogar de jeito nenhum, forçado pelo técnico entrou em campo e com cinco minutos fez o seu gol, driblando a defesa toda do Mengo. Acabou de fazer o gol, deu um tchau para o técnico Jair Polaca e foi embora. Ele era assim. Perdemos um segundo Pelé!
Mas a melhor estória foi do Vandim, que escalavrou a perna do Paulo Borges, numa partida de futebol. Pois é, o Paulo Borges é de Cambuci, cidade que fica perto de Miracema, no Noroeste Fluminense. Sim, aquele mesmo que jogou no Bangu. Certa vez, ao estrear no Bangu, jogando contra o Vasco, o repórter falou com o Paulo Borges: “Olha, você não tem medo de jogar contra o Rafaneli, ele é o “xerife” do Vasco, no que o Paulo saiu-se com essa: “meu amigo, depois de já ter sido marcado pelo russo de Miracema (apelido do Vandim no futebol), que me deixou igual o pássaro piaçoca, com a perna toda vermelhinha de tanto apanhar , não tenho medo de mais nada”.
E ainda havia em Miracema o Jorge sete pernas. Era incrível o rapaz, não adiantava jogar a bola por entre as pernas dele, que ele conseguia recuperar a pelota, a turma jurava que ele tinha uma terceira perna por trás dele, daí o apelido Jorge sete pernas.
A conversa foi esquentando tanto, com o Assad servindo a caninha libanesa “Arak”, que eu estava vendo a hora dos coroas me convidarem para uma pelada no dia seguinte, às 6,00h. da matina, hora em que eles jogavam quando rapazes. E eram bons de bola, como acontece com a maioria dos jogadores por esse Brasil afora.
Para encurtar a conversa, eu nem lembrei a eles, mas conto para os meus leitores: Miracema deu dois técnicos para a seleção brasileira de futebol, os irmãos Moreira, o Zezé e o Aymoré. E mais recentemente, o zagueiro central Célio Silva, lembram-se?
Portanto, podem acreditar nos coroas . É tudo verdade!
Gdantas