EU LOUCO
Estava nu andando pela rua. Sentia no meu corpo a brisa fria tangendo a pele. O céu era tão lindo, e eu o via como nenhuma outra pessoa o fazia. Os carros, as calçadas, os transeuntes, os arranha-céus, o calçadão,a praia, as águas demarcando seu território na areia...
Eu ali, nu como nascera, livre de todas os malefícios dessa louca algazarra a qual denominamos vida.
_Louco! Diziam todos. Prossegui como se não fosse comigo.
_ Alienado! Proferiu um engravatado:
_ chamem a policia!
Passei a frente das igrejas e fui amaldiçoado:
_Cruzes! Disse o padre.
_O sangue de Jesus tem pode! Exclamou o pastor.
Um adepto do espiritismo envolto em seu casulo de hipocrisia bradou forte e eloquente como fosse dono de toda verdade, da qual antes só os evangélicos e os católicos se apossavam:
_É só um o corpo que vagueia! Como se o espírito não o habitasse. Como se não vivesse preso às suas algemas materiais, como se fosse despido de todo mal, na crença que em outra vida repararia todo mal aqui causado, fácil pensar assim!
Desnudo de paranoias e paradoxos, de toda futileza, ingênuo, incrédulo e insensato, prossegui.
Tudo ali me parecia tão estranho, todos me eram estrangeiros.
Trouxeram-me roupas e vestiram-me. Continuei um estranho. Então, todos se despiram. Agora sim! Não éramos iguais!
_Cruzes exclamou o padre!
_Afasta-te de mim, sussurrou o pastor!
O desnudo adepto do espiritismo, em sua redoma de cristal, indiferente ao pastor e ao santo padre (como o dizem) fez ecoar pelos quatro cantos:
_Só retrata o que fora noutra vida!
Até mesmo o rabino fez-se rogado num linguajar estranho.
_Louco! Disseram todos, e um a um, passo a passo me seguiram.
Saulo Campos
Itabira MG