A HORA DE LATIR

A minha irmã, Luciene, cria um cachorrinho muito bonitinho, desses peludos de orelhas caídas, aliás, o cãozinho é da filha dela, minha sobrinha Jojô, que trata o animalzinho como se fosse um bebê, com direito a comidinha especial, roupinha e acalanto no colo.

Outro dia, ao cair da tarde, cheguei em casa com uma tremenda dor de cabeça e deitei-me na esperança de rápida melhora e, assim, tentei dormir; tentei, mas não consegui.

Acresce que, o cãozinho se pôs a latir sem parar debaixo da minha janela não me deixando pegar no sono. Fechei a janela, mas não adiantou, alguma coisa o incomodava, talvez um gato ou um bicho qualquer; só sei que os seus latidos vinham de encontro aos meus ouvidos com o efeito de marteladas, fazendo a minha cabeça latejar.

Vencido pelo cãozinho barulhento levantei-me e fui em busca de um copo de água; ao passar pela sala vi a minha irmã folgadamente assistindo a televisão e lhe avisei que o cachorrinho latia sem parar; ela respondeu-me com uma espantosa interpelação: O quê que tem? Isso é hora de dormir? Fiquei estático e calado diante de tamanho impropério; bebi a água e voltei a deitar. Tentei amenizar os latidos do netinho da minha irmã, digo, do cachorrinho, colocando o travesseiro sobre a cabeça, porém, em vão.

Enquanto tentava adormecer fiquei pensando na lógica da minha irmã, assim como, na demonstração de seu bom raciocínio e ótica para ver a vida e uma dúvida atroz prevaleceu: Será que eu fui dormir na hora imprópria? Àquela hora não estaria reservada ao cãozinho para exercitar seus latidos? Acho que a imprudência foi minha, todavia, se ela não me avisou que tinha reservado àquela hora para os latidos e grunhidos do seu netinho, digo, do seu cachorrinho, como eu poderia saber? Deveria ter me avisado, assim eu não esbulharia o horário reservado. Certamente eu viria dormir em outra hora e quem sabe eu nem teria tido dor de cabeça?

Questão de bom senso!