Desigual pode ser legal
Em muitos momentos me flagro admirando realizações. Feitos das pessoas. Evidentemente minhas surpresas são, muitas vezes, resultado direto de minha ignorância no assunto, outras são notórias idéias tidas como originais, mesmo por especialistas. Porém há outras ocasiões em que fico sozinho na percepção, e é aí onde acredito que ter a cabeça aberta possibilita enxergar um pouco além e que isso é enormemente dificultado pelos modelos estabelecidos. Esses padrões ocorrem no campo artístico, esportivo, no comportamento social etc., mas é na esfera pessoal que eles causam um grande estrago. Ultimamente temos visto inspiradas e heróicas batalhas para quebrar os modelos, porém seu sucesso nos confortos tecnológicos e nas acomodações sociais retardam a ampliação das visões tidas como adversárias e não como evolução. Muitas das pessoas que apregoam serem afeitas ao experimento (que na verdade é apenas uma maneira mais ampla se enxergar as coisas) não resistem à primeira mudança que tire suas óticas da zona de conforto com horizonte fixo. Não raro, olhares de estranheza cruzam à minha frente diante da exposição de uma idéia que exclua os valores correntes. Por incrível que pareça, o que me inspirou a escrever sobre isso não é nada revolucionário: estava ouvindo uma música na qual a cantora inspira-se em outra para impostar voz e interpretar com os trejeitos de sua predecessora famosa e que, esta sim, enfrentou a sua atônita platéia com sua voz incomum e acostumou-a a lhe ouvir, sendo hoje referência. Isso não é nenhuma novidade. Muitos intérpretes começam (e muitos permanecem) as suas carreiras imitando algum famoso por admiração, identificação ou, o que deve ser mais provável, por saber que lhe facilitará a aceitação pelo público. Na vida, isso também ocorre e nós certamente deixamos de ter grandes novidades em todos os campos da atividade por sermos conservadores, quando não aceitamos aquilo a que não estamos acostumados.