A Perfeição
A perfeição, ou desejo de perfeição é algo que queremos alcançar. Não sei se por satisfação pessoal ou se porque é uma forma de prestarmos contas à sociedade da educação que recebemos. Talvez seja uma maneira de nos sentirmos superiores aos nossos semelhantes ou, quem sabe, a realização de um desejo que sabemos nunca iremos alcançar.
Lembro-me da família e de todas as suas mazelas. Lembro das relações interpessoais. Temos, via de regra, em nossos núcleos de convivência representantes que são a ovelha negra, no núcleo familiar; a perfeitinha, em diversos núcleos; a maluquinha, o maluco beleza e outros. Hoje, me ocuparei da perfeitinha.
A perfeitinha é, antes de tudo, uma chata. Isso porque a perfeição é chata e cansativa. Na perfeição falta o encanto e sofre com o excesso da beleza. Mesmo que essa beleza seja idealizada. Os exageros causam desequilíbrio nas melhores balanças. Brás Cubas, personagem de Machado, não encontrou mulher que o fizesse enlaçar pelos laços matrimoniais, porque seu olhar agudo pode perceber todas as imperfeições das perfeitinhas. Uma era coxa, outra interesseira, e, a mais especial de todas era casada, o mais grave dos defeitos; enfim, não transmitiu a nenhuma criatura humana o legado da nossa miséria.
O que atrai na verdade não é a perfeição, porque ela não é de modo algum verdadeira, porque ela não existe, porque ela é a repulsa do que realmente somos e queremos. A beleza está na imprecisão, nas assimetrias, nas poucas condições. A perfeição é um mergulho na superficialidade, na incongruência, no medo. Buscamos a perfeição apenas por sabermos não existir e nos deixamos enganar. Não somos verdadeiros na perfeição. A perfeição é apenas mais um desejo, mais uma frustração, mais um abandono do real. A perfeição simplesmente não existe, é platônica, pura imperfeição.