A MÃE E A FOME
Que triste contraste nas palavras a mãe e a fome.
Enquanto na primeira sentimos vida, ternura, abnegação, amor ao próximo; na segunda previmos morte, penúria, desalento e fim da própria vida.
Onde estamos?
Onde vivemos para diariamente conviver com este contraste tão arrasador, que enche a alma de tristeza, penúria e desencanto?
Durante décadas e décadas é esta palavra fome que muito tem afligido a humanidade.
Nosso universo é bastante extenso, as fontes de riqueza tão imensas, nosso Brasil com tanta terra aproveitável, nossos rios, mares tão piscosos, e por que tanta fome?
Foi com imensa amargura que constatei em noticiário pela televisão, a fome no nordeste.
Mães aflitas, com a amargura estampada em seus rostos, acalentando seus filhos esfomeados, suplicando por ajuda. Que triste verdade ao ser constatado que, para mitigar a fome, são obrigadas a usar de seu único restante recurso alimentar, o MANDACARÚ, uma das plantas que resiste à seca e que são igualmente fornecidas, em último caso, ao gado faminto, para evitar sua morte iminente. Isto nos vem chocando profundamente e valha-me Deus, quanta miséria!
Onde estão os poderes constituídos que lutam por uma democracia digna, mas ficam de mãos atadas, ante um flagelo, que há muito poderia ter sido minorado?
Nos noticiários assistimos a compra feita pela Câmara Federal, de televisores para que, de seus gabinetes os deputados, evitando a falta de quorum, possam assistir à próxima transmissão da Copa Mundial de Futebol.
Quanta insensatez! Quanto desperdício! Como deve sentir-se a Comunidade Solidária, tão dignamente presidida pela senhora Ruth Cardoso, vendo e assistindo a fome assolando o nosso país.
O dia das mães está se aproximando e é num desabafo de emoções, de revolta que, na nossa modéstia e como mãe que somos, passamos a refletir e solicitar ajuda para ser minimizada tanta angústia.
Conclamo a vocês filhos, que habitam neste Brasil maravilhoso de norte a sul, leste e oeste e, tendo sua mesa farta que, ao se lembrar do Dia das Mães e na alegria de presenteá-las com algum objeto, não deixem de fazê-lo, mas comprando um de menor valor, para que a diferença de preço seja revertida para aquelas que, amarguradas, sofrem embalando seus filhos famintos.
Como gratificante seria se conseguíssemos que, em todos os Estados da Federação, fosse aberta uma conta única bancária, para que assim pudéssemos diminuir o flagelo da fome.
Esses recursos poderão vir de vocês filhos que habitam esse nosso querido Brasil e que, com este gesto sublime, humanitário, irão trazer para aquelas mães, o melhor presente, aquele que elas amariam receber: A FRATERNIDADE.
CURITIBA, JUNHO 2002
TEXTO DA AUTORA PUBLICADO NO LIVRO: quando florescem os cafezais.
Dinah Lunardelli Salomon