ANCIÃOS
ANCIÃOS
Se uma infância solitária é o retrato da verdadeira tristeza, imagine então uma velhice abandonada. Imagine a dor interior que sofre um ancião largado à própria sorte no mundo, sem as visitas e os carinhos de seus afetos. Imagine a dor da solidão nas noites intermináveis, quando as horas parecem infinitas e a dor da saudade aguda como gume de sabre perfurando o coração.
Triste apagar das chamas de vida nos olhares opacos dessas velhices, em cujo coração ainda queima a chama do amor aos filhos, filhos que já tomaram seus caminhos e que acabam maquinalmente esquecendo seus velhos alquebrados nos nosocômios, nos asilos e casas de caridade.
Triste é ver um ancião curvado ao peso da idade laborando nas ruas abarrotadas de gente mas de poucos humanos. É penoso ver um ser devotado à vida se extinguido de forma humilhante, ora rechaçado pelos próprios filhos, ora abandonado pela própria sociedade que não vê nestas indefesas criaturas a produtividade desejada.
Quantas histórias e quanto aprendizado abandonado como livros vivos encontramos por aí, nos bancos das praças, nas escadarias das igrejas, nos becos imundos, nas marquises das pontes.
Estorvo é o que representa muitos anciãos para seus familiares cuja morte indelicadamente ainda parece ser a solução para livrá-los desse fardo.
Falta paciência, falta amor, falta misericórdia, falta lógica para esses que, sem sentimentos abandonam seus velhos, esquecem os carinhos e o sofrimento pelos quais passaram para dar o mínimo necessário para ao fazerem homens e mulheres dignos de serem chamados de cidadãos e cidadãs.
Triste velhice abandonada como folhas mortas do outono, que ainda esboçam um triste sorriso e ainda bendizem a vida em todo o amanhecer esperando o apagar definitivo do lume tremeluzente de seus olhos.
Quem tem seus velhos que cuide deles, porque o tempo implacável fará de todos nós, se tivermos sorte, anciãos saudosos e queira Deus que não sejamos carentes de amor.