Guarda-Chuva
Aos grandes amigos deste recanto, gostaria antes de ressaltar que amo o Rio de Janeiro bem como os cariocas. É um imenso prazer morar aqui. Sinto também certa simpatia pelo time do Botafogo apesar de ser o Fluminense meu time do coração, e peço pra que não entendam o texto abaixo com uma crítica aos cariocas que também sou. Uma sátira talvez!
A crônica
Será que isso só ocorre no Rio?
Interessante a forma como as pessoas agem e pensam mesmo nas situações mais simples e corriqueiras. Tem gente que fura fila de banco. Tem gente que entra na fila do caixa rápido de até 15 volumes do mercado claramente com 89 volumes ou mais e ainda finge que não sabe o que está acontecendo. Tem gente que retorna uma estação no metrô pra depois seguir em frente e fazer a viagem toda sentada. Tem gente que torce pro Botafogo... Ops, isso não tem nada a ver com a história, (fiquei com receio de estragar a crônica por isto, mas é só brincadeira, sou carioca e adoro os times do Rio). Tem gente que bebe café da máquina de café da Empresa que eu trabalho e diz que é uma delícia (gosto não se discute). Essas coisas!
Mas uma bem legal, e que acontece em dias de chuva, e que parece um fenômeno inexplicável, é sobre a utilização do guarda-chuva. Eu, particularmente, não gosto nadinha de usar guarda-chuva. Pode ser um chuvão daqueles, que eu não uso. Às vezes prefiro até esperar estiar um pouco pra depois seguir meu rumo a ter que usar guarda-chuva. Acredito que a maioria dos cariocas não goste de chuva e, por conseguinte, também do uso de um guarda-chuva, eu nem sequer tenho um guarda-chuva, mas pra muitos é necessário e eu entendo e respeito. Por outro lado tem carioca que se enche de casacos, toucas, luvas, cahecol, botas, por causa de um tempinho um pouquinho de nada mais fresquinho que faz diferente do normal, porque normal pra carioca é 43º graus no verão e 39º no inverno, se fizer 37º e meio já tem gente saindo como um esquimó na rua. Pra dizer a verdade, de um tempo pra cá, o Rio de Janeiro passou a ter apenas duas estações no ano: verão super quente, e verão mais ameno, as demais estações estão extintas por aqui. Mas cada um é cada um, e sempre digo que essas coisas que dão graça à vida e aos seres humanos, as diferenças e vontades de cada um. Voltando á questão do guarda-chuva... Espero ter um dia a explicação pra tal comportamento.
Eis que certa vez chovia – sair de casa em dias de chuva é um saco – e eu - como bom carioca (e também uso touquinha se o tempo der uma viradinha, porque adoro toucas) – planejei toda minha rota para chegada seco até meu destino. E é justamente aí que está a coisa inexplicável à qual me refiro, uma coisa simples, corriqueira como já disse, porém sem entendimento pelo menos por mim. Por que as pessoas que já estão usando guarda-chuva pra não se molhar precisam ainda disputar o espaço na calçada com você de baixo das marquises? Não entendo... Elas já estão embaixo dos seus guarda-chuvas, mas querem ficar de baixo das marquizes também, não saem pingos do chão, não saem gotas das marquises, e lá estão elas, brigando pelo melhor lugar de baixo da porcaria da marquise. Uma “briga” sem sentido, uma disputa louca por território, uma guerra genuína por espaço. Os guarda-chuvas viram armas, armas perigosas, artefatos de defesa, não contra a chuva, mas contra qualquer um que se atreva a ocupar seus lugares de baixo das marquises. Não! E o errado ainda somos nós que esbarramos neles (porque eles ainda fazem cara feia), somos nós que não usamos guarda-chuva e que quase temos olhos arrancados, roupas rasgadas, rostos perfurados pelos ataques das pessoas com guarda-chuva, que estamos atrapalhando o espaço sagrado deles de baixo da marquise em dias de chuva. E se você ousa reclamar a rebelião “gurada-chuval” está armada, o tempo fecha mais ainda. Como se não fosse suficiente, tem gente ainda que aproveita uma garoa de nada que faça pra desfilar seus guarda-chuvas tunados pelas ruas e calçadas como se fossem objetos de desejo pros outros, lugar do desfile? De baixo das marquises, como se fosse um concurso de quem tem o maior e mais vistoso guarda-chuva. Então lá está aquele monte de pavões que não podem se molhar um tiquinho se quer, aquelas mini-tendas impermeáveis de diversos modelos: preto, cor de rosa, xadrez, com a foto da Madona, do Cristo... Ahh! Os transparentes são os mais discretos, porém mais perigosos, porque você pensa que é uma pessoa comum, pensa que é uma pessoa que também não goste de guarda-chuva vindo em sua direção (um aliado) e quando menos espera recebe um golpe quase fatal. Já perdi a conta de quantos ataques premeditados levei, sobretudo dos transparentes. Não existe uma regra pra isso eu sei, mas será que o bom senso das pessoas não os diz, ou os fazem perceber que marquises são feitas para pessoas que não usam guarda-chuva?
Acho que não...
Então sigamos a vida molhados mesmo.