Tempo
As vezes me pego pensando se já houve um tempo diferente.
Já não tenho certeza, até porque vivo no tempo de agora.
E no tempo de agora basta você olhar em volta para obter uma descrição. O tempo de agora é o da supremacia do pensamento humano que resulta em fuga, rebeldia, narcisismo, individualismo, consumo e solidão.
O tempo de agora se traduz em falência familiar, desrespeito e suicídio.
No tempo de agora a mentira existencial produz o vento do medo do real. No tempo em que vivo, as religiões chamam pra si as soluções para os clamores dos homens, mas ao contrário do discurso negam a essência do amor e se perdem nos sustentáculos vazios.
No tempo de agora, tudo isso é devidamente disfarçado no show da mídia que dita as regras e nos mantém sorrindo, já que vivemos no tempo da aparência que nega o coração. Este também é o tempo do adeus como solução. Tempo de descartar o semelhante. Tempo de produzir os monstros que mostram a verdadeira face deste tempo. Tempo em que o amor se confunde com o sexo, que por sua vez é cada vez mais descartável, assim este também é o tempo da carência, já que é o tempo em que a televisão passou a ser o centro da família e o desabafo é a reclamação vazia do momento.
Este é o meu tempo que tem um deus para o qual todos se voltam, vivem e procuram: o deus dinheiro.
Mas, será que houve um outro tempo?
Sei lá! Um tempo que as pessoas se respeitavam mais, sonhavam mais, sorriam mais e valorizavam mais o simples?
Um tempo em que viver era existir em grupo e que a beleza de uma manga era admirada e uma borboleta emocionava?
Será que houve um tempo assim? Tempo de gente que valorizava a família, com respeito aos pais e admiração pelos idosos?
Tempo em que os amores não significavam campos de disputa, e que o cheiro do mato era o mais profundo aroma da vida?
Houve este tempo? Tempo em que se valorizava o bom bate papo de esquina e que os almoços de domingo, reunia toda a família em torno de um momento de comunhão?
Talvez neste tempo, Deus não era só um ser religioso, distante, cheio de vontades e pronto para castigar.
É, talvez neste tempo Deus fosse parte das nossas vidas, na família, nas escolas, nas universidades, nas frentes de trabalho e nas relações sociais.
É, talvez o que falte a este tempo seja mais simples do que pensamos.
Talvez o que falte a este tempo seja abrir mão do Eu e se permitir em Deus.
E agora, é uma questão de escolha... E de tempo.