Caspa
Eu sou a caspa que estava na cabeça da tiazinha que andava vagarosamente pela calçada.
No momento em que espetou a ramona na cabeça, fui descolada e voei ao vento.
Aterrizei na cabeça da menininha que passava correndo rumo à escola. Estava atrasada. Chegamos quando a sineta acabava de soar.
Entramos, era aula de matemática. Aprendi sobre números e que eles são infinitos, quase iguais a mim e minhas irmãs. Não acabamos nunca.
Após a aula no corre corre da menina caí, voei para dentro de um carro e me grudei na roupa do motorista. Fomos juntos viajar, mas o vento este abençoado colocou-me nos cabelos do passageiro e lá fomos para o restaurante, ele estava faminto.
As comidas estavam rigorosamente organizadas, limpas, saudáveis.
Disfarçadamente, sem ninguém ver, ele coçou a cabeça com o garfo e lá fui para o chão, quase parei no tacho de batatas fritas, mas fui para o chão. Lá fiquei até ser varrida pelo garçom que me jogou para o alto e repousei tranquilamente em sua cabeça, meu melhor habitat.
Agora estou por aqui, não sei bem onde estou. Talvez na cabeça de alguém próximo, muito próximo de nós.