CRÔNICA #073: UMA PALAVRA EM FAVOR DO “A NÍVEL DE”...
O “nivelismo' pode até ser danoso à língua, como muitos querem, mas se for utilizado com excesso e sem critério, assim como , o gerundismo e outros ismos.
Não entendo o porque da aversão de certos gramáticos e professores. Devo informar que não costumo usar essa expressão, Aliás, não lembro de algum dia tê-la usado.
Outro dia fui conversar com um renomado professor de minha cidade sobre este assunto. Comecei expondo exatamente o que aqui estou a expor. Ele nem me deixou argumentar, cortou-me logo de inicio, com uma saída, para mim, muito simplista: “Não existe, nunca vai existir e é totalmente desnecessário”. Continuei a discordar.
Então, para que admitir o pleonasmo, o preciosismo, o eufemismo, a hipérboles e outras figuras de linguagem que soam totalmente destoantes? Ganharam o seu lugar no vernáculo pelo uso popular contínuo. O mesmo aconteceu com os neologismos que temos. E ainda há outros termos que estão a caminho e, certamente serão incorporados ao glossário de nosso idioma. É só uma questão de tempo.
Talvez, o que esteja faltando é algum grupo de gramáticos que crie as regras e suas exceções para que seja disciplinada a sua utilização, quando e como devemos empregar essa expressão.
Dizem que a língua é dinâmica e o povo é quem de fato a enriquece (ou empobrece). Cabe aos “gestores” e “guardiões” de nossa língua, irem catalogando os novos termos e ficarem bem atentos à tendência popular.
Cabe ainda, ao órgão gestor de educação do nosso País, a implementação de programas de incentivo à leitura e escrita, de incremento na qualidade da Educação, para que que nossos alunos se desenvolvam mais no conhecimento de seu próprio idioma e não ficar perdendo o foco com assuntos de outros órgãos ou ministérios. Assim, reduzir-se-á bastante essa efervescência, estabilizando a língua, retardando esse processo.
Por que seria incorreto dizer: “... a nível de desempregado”? Entendo essa expressão como ”comparando-se aos desempregado ou a essa classe”. Embora não costume usá-la, qual é o mal que há nessa expressão?
Estou à cata de respostas coerentes, consistentes e convincentes.
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Obrigado a todos pelas interação que são muito bem-vindas.
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Lili Maia
Eu ganhei linhas certas do Criador, porém escrevo torto. Não me cabe, pela minha total falta de formação, dizer se isto é certo ou errado. O que me "dá nos nervos" é o exagero do uso de certas expressões. O que está na moda agora é o "até porque", que um certo jogador de futebol disseminou pela mídia, feito um rastilho de pólvora. É como o "sabe" que o reizinho populista repete sem parar em suas entrevistas. É como o "assim" que pedagogos, psicólogos e artistas adoram usar em suas falas. A nível de, me parece olhando aqui do meu canto, já está meio em desuso, mas estou certa de que assim como não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe, bastará um microfone, um jogador de futebol que diga umas três vezes a expressão, para que ele volte a ferir nossos ouvidos, não por falha de uso mas por exageradas repetições. Mas prá que falar de MEC? Lá eles dizem que tudo é permitido e muito em breve seremos presos por ensinar nossas crianças que não é certo "PONHAR" O DEDO NO NARIZ. Prometo que VOU ESTAR PENSANDO no assunto... Boas letras e beijos daqui
Para o texto: CRÔNICA #073: UMA PALAVRA EM FAVOR DO “A NÍVEL DE”... (T2971402)
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Mario Roberto Guimarães
Você nos traz um tema altamente relevante, meu caro Bosco. Permita-me opinar a respeito. Quando o professor de Português lhe disse que a expressão " a nível de" não existe, há que se lhe dar razão, posto que, à luz da norma culta da língua, o correto seria dizer "em nível de", já que, quando se diz que duas coisas encontram niveladas, elas estão, não ao mesmo nível, mas no mesmo nível, daí o argumento que ele utilizou. Finalmente, os neologismos tendem, em geral, a enriquecer o vocabulário, mas, no presente caso, eu sou contrário à construção citada, por não estar corretamente preposionada. Esperando ter contribuído para que se instale um debate salutar em relação ao assunto, envio a você o meu fraterno abraço, Mário.
Para o texto: CRÔNICA #073: UMA PALAVRA EM FAVOR DO "A NÍVEL DE"... (T2971402)
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É Mário! Embora concorde com tudo o que escreveste, vale lembrar que a preposição "a" também cabe aí nessa expressão.
O uso da preposição vai depender da regência do verbo. No caso dos verbos "ir" ou "chegar" para alcançar o nível cabe muito bem a preposição "a". Já, comparar e alcançar não cabe qualquer preposição, pois são verbos transitivos diretos.
Mas, deixa estar como está. Nossa língua tem suas pegadinhas, tanto no geral como no regional.
Tens razão, Mário. Segundo o Prof. Pasquale, trata-se de uma expressão aportuguesada do inglês "at the level", mas inócua, pois não faria falta se não a usássemos. Segundo o Pasquale e o Mário, não precisamos usá-la, mas o for, prefira-se "em nível de".
Valeu! Foste muito esclarecedor.
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"A NÍVEL DE..."
O professor Pasquale chama-a de "desnecessária, empobrecedora e irritante". O Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de São Paulo a classificou como um "modismo desnecessário e condenável". Estamos falando da famigerada expressão "a nível de...".
O professor Cegalla disse que apesar de estar em voga, trata-se de uma expressão inútil, como exemplificada nesta frase de um jornal carioca: "A pesquisa da FGV mostrou estabilidade nos preços tanto a nível de atacado quanto no varejo". Bastaria ter escrito: "... tanto no atacado quanto no varejo". Uma frase como "A questão deve ser discutida a nível de diretoria" pode muito bem ser transformada em "A questão deve ser discutida pela diretoria". Outra como "O jogador sofreu uma contusão a nível de joelho" fica muito melhor quando mudamos para "O jogador sofreu uma contusão no joelho". A frase fica mais limpa, menos prolixa.
Convém lembrar que as locuções "ao nível de...", "no nível de...", "em nível de..." ou "no plano de..." nada tem com a história. Essas são legítimas locuções portuguesas com o sentido de "à mesma altura", como se vê em "Esse fenômeno só ocorre quando se está ao nível do mar", ou ainda, "Certos vícios rebaixam o homem ao nível dos brutos".
Não se sabe a origem desse modismo. A hipótese mais provável é que "a nível de..." tenha surgido da tradução literal da expressão inglesa at level of.
Ita est!
Prof. Zanon
domingo, 3 de maio de 2009
Referências:
CIPRO NETO, Pasquale. Nossa língua curiosa. São Paulo: Publifolha, 2003.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. 2ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
MARTINS, Eduardo. (org.) O estado de São Paulo. Manual de redação e estilo. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1990.