O BURACO ONDE ELE MORA...
Pois é, existem buracos e buracos. Uma frase nada original, é verdade. Mas depois de conhecer certo local, nunca mais vou achar que morar em buraco é coisa de pobre. Pois rico é tão poderoso e assim tão fdp que, não bastasse a sua posição privilegiada, ainda achou um um jeito de mostrar ao pobre como ele, o pobre, é incompetente e pouco criativo ao se sujeitar a morar em casa de lata, de papelão, embaixo de ponte, quando poderia cavar um belo espaço sob o chão. E com tanta terra aí neste Brasilzão.. Nem ia ser percebido, ficando lá escondidinho e bem acomodado.
Acontece que um desses senhores bem aquinhoados pela sorte, sem saber o que fazer com a grana, ou sabendo até, construiu uma bela morada cavando o chão. E aí, vejam só, ele fez uma inversão total de perspectiva e passou a viver ao contrário do que se costuma dizer dos poderosos, falando que olham tudo do alto... Sempre a história dos locais elevados, as acrópoles, os por cima da carne seca, enfim. E, neste caso, alterou-se para o extremo oposto o convencional modus vivendi do tal abonado morador da mansão-buraco que agora passa a olhar pra tudo mesmo é de baixo para cima. E nem por isso o inquilino deste esconderijo milionário vai se sentir pouca coisa. É que, pra quem tem grana, qualquer perspectiva lhe vai ser favorável, estou a dizer o óbvio. Uma vez que dinheiro altera todas as leis, na verdade dinheiro as cria em proveito próprio, duvidar até a da gravidade... e neste submundo nababesco o sub fica somente pra designar subterrâneo, e afinal sub só é coisa ruim quando se fala em "categorias de base", vai daí subalterno, sub-raça, subversivo, suburbano, submundo, subdesenvolvido, subalugado, subaproveitado, etcétera.
No melhor estilo tatu, esta edificação, ou "subabitação" de luxo, vai livrar seus locatários do incômodo telhado de telha, capim- santa- fé e principalmente do indesejado "telhado de vidro". Esta sim, uma vantagem suplementar. Mas nunca terão a chance, em uma emergência, de sair pela porta dos fundos.
Enfim, nada é perfeito mesmo...
Nota: Esta crônica não pretende ser nada do tipo denúncia ou ideológico. Apenas uma brincadeira diante de algo um tanto insólito ou inusitado. "De Herodes a Pilatos", passando pelo neoliberalismo, eu lavo as mãos.