O QUE VI EM PARIS II
Paris foi realmente uma extraordinária experiência para nós, a realização de sonhos ousados de tempos de outrora em que sonhar era apenas mero consolo para a alma adolescente, que tudo e tanto gostaria de realizar. Mas que, pela grandiosidade do devaneio, obviamente jamais se atreveria a pensar que se tornaria real e concreto, posto que tão distante e também certamente quase tão impossível.No entanto, essa cidade banhada pelo Rio Sena, cujo solo provavelmente todos anelam pisar, abraçou-nos do alto da Torre Eiffel e nos bafejou com o brilho de um sol saudável, sem perigo de raios ultravioletas, algumas horas depois de ansiosa, porém tranquila graças a Deus, viagem com saída direto de Natal. Sobrevoar o Oceano Atlântico durante a madrugada a bordo de um avião A330 da TAP por quase sete horas nos deu tempo para lembrar daqueles sonhos jamais esquecidos. E sorri da ironia do destino, esse maroto capaz de transformar vidas e momentos. Ali estávamos nós voando rumo primeiramente a Lisboa, de onde logo depois seguiríamos para a capital da França após as formalidades alfandegárias e legais.
Nosso desjejum foi servido ainda no avião, o dia amanhecendo e pintando o céu de forma multicor, antes de chegarmos a Lisboa. Já em suas proximidades, as quatro horas a mais da capital portenha em relação ao fuso horário do Brasil nos faziam enxergar no espaço lá fora, com a testa franzida e os óculos escuros, o forte brilho do sol europeu. Em pouco pousaríamos no Aeroporto Internacional de Lisboa, e essa perspectiva alvoroçava nossos pensamentos apesar de ser nossa segunda visita a essa cidade, ainda que de passagem para Paris. Em Lisboa permaneceríamos na volta, por três dias.
Obviamente não conseguirmos dormir nem cochilar por toda a viagem, embora tentássemos, pelo menos eu tentei sem sucesso.O barulho das turbinas, o vai e vem dos passageiros, a ansiedade, a expectativa de chegar logo e desnudar a cidade, tudo nos mantinha irremediavelmente acordados. Houve quem dormisse, sentado na própria poltrona ou esparramado em três delas por um acaso desocupadas, esses privilegiados que conseguem tal façanha com a maior facilidade. Li, conversei com minha mulher e assisti a dois filmes recém lançados: A Fala do Rei e O Turista, ambos apresentando imagens maravilhosas e som perfeito(versão para o português de Portugal, claro). Desse modo foi mais fácil não perceber a lentidão das horas enquanto cruzávamos a imensidão atlântica.
Nosso vôo para Paris seria três horas após aterrissarmos em Lisboa, cujo aeroporto é colossal, pareceu-me bem maior do que o de São Paulo. Um ônibus nos apanhou à saída do avião e demorou vários minutos contornando caminhos e estradas, isso no interior do aeroporto, até nos deixar no portão de desembarque. A partir desse local perdi o sentido do tempo de tanto andar, perguntando a um e outro onde seria o portão de embarque para o nosso vôo. E foi uma verdadeira batalha para, enfim, descobrir o tal local, já o cansaço tomando de conta de nossas forças. Ainda faltavam algumas emoções até chegar, finalmente, à capital francesa.