FALTA DE PACIÊNCIA
Um novo amigo e colega nosso, o Magnu Max Bomfim, um cronista que estreou recentemente no “RDL”, tem nos brindado com histórias e “causos” interessantes, mormente ligados a pescarias, inveterado pescador que ele é. E o cara parece ser do tipo profissional, pois ele e seus amigos vão longe em busca dos peixes que alimentam a sua fome, tanto aquela que bota fogo no bucho quando não é atendida, como a outra que brota da paixão pelo saudável esporte do anzol e do molinete.
As barrancas do rio São Francisco, o “Velho Chico”, os grandes rios piscosos do Pantanal do Mato Grosso, de Goiás e de outros estados, todos esses lugares já foram ou são visitados quase sempre pelo Max e sua turma. E sempre na sua volta, ele tem boas histórias para contar, as quais são narradas num estilo agradável, que nos propicia a sensação de estarmos participando, como coadjuvantes, dessas pescarias.
Num comentário meu sobre um desses textos do Max, contei-lhe sobre o “causo” do negrinho lá do Cedro, meu torrão natal, o Lú Preto, que bispava a pescaria de um forasteiro lá no Rio Paraopeba, em épocas remotas, quando peixe grande dava lá como praga. Os piaus, as curimatãs, traíras, os dourados, grandes bagres e até surubins eram fisgados nessas águas que cortam aquela minha região, fazendo a alegria de muita gente.
Pois o homem estava lá na margem do rio, jogando o seu molinete e puxando os seus peixes, quando o Lú Preto chegou e acocorou-se alguns metros atrás, pitando um cigarrinho de palha. O cidadão volta e meia puxava um peixe e, ao retirá-lo do anzol, dava uma olhada no moleque que pitava e coçava o cabeção, sempre de cócoras. Não falava nada, só pitava, coçava e cuspia de vez em quando.
O tempo foi passando, os peixes se acumulando e o homem, a certa altura, virou-se para o negrinho e sapecou:-
“- Heiii, rapaz, chega mais! Pega aqui uma vara e vem pescar também, sô! As curimbas tão só esperando a isca! ...”
E o Lú Preto, impassível, soltando fumaça pelo nariz, cuspindo de banda e coçando a cabeçorra:-
“- Num vou não, moço! Num tenho paciência! ...”
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 14/05/11