O brique e o Redenção
O BRIQUE E O REDENÇÃO
Jorge Linhaça
São tantas as barracas, em sua diversidade de ofertas, que chegam a confundir os olhos e as sensações.
Doces, roupas, objetos de decoração, bugigangas, antiguidades, brinquedos, fantoches, tudo dividindo o espaço com gente, muita gente que se espreme entre as barracas.
Famílias, casais, amigos, compartilham um bom chima, enquanto examinam as mercadorias expostas, com interesse real ou apenas curiosidade.
O parque ao lado convida para um passeio e lazer, com direito a mini-zoológico.
O espelho d'água transforma-se me pista para os nautimodelistas. Os curiosos se perfilam às margens do lago artificial para ver as manobras executadas pelas mini-lanchas remotamente controladas.
Freqüentar o redenção é poder olhar para o povo gaúcho em sua intimidade,
sua forma de ser, um misto de urbanidade e provincianismo patentes na capital do estado.
Provincianismo no sentido positivo da palavra, entenda-se bem, pois aqui ainda se cultivam valores familiares esquecidos em outras plagas, famílias ainda passeiam juntas em diversões simples.
Talvez seja o chima, quem sabe, que funciona como catalisador do ato de partilhar, dividir a mesma cuia e bomba, talvez tenha a magia de fazer resgatar a confiança e generosidade na alma gaúcha, fortalecendo os laços que são tão facilmente esquecidos na correria do dia a dia de outras paragens.
Alguém pode alegar que a roda de cerveja, em uma mesa de bar, cause o mesmo efeito, mas na verdade são coisas bem diferentes.
Enquanto a cerveja, serve como um estimulante e entorpece os sentidos , nuns mais que nos outros, o chimarrão partilhado sustenta toda uma tradição embutida nesse simples ato, é um modo de vida, sem hora nem lugar para acontecer.
Basta uma cuia, uma bomba, uma erva bem cevada regada com uma boa água chiada, para que aconteça um íntimo encontro, regado à amizade confidências, causos e a alegria de estar junto aos amigos e de quem se ama, no sentido mais amplo da palavra.