GENTE DA FAZENDA : ZÉ LUCAS
O Zé Lucas já trabalhava na fazenda Baía, quando o casal Zé Carneiro e D.Cici lá chegaram, no início do ano de 1941.
O Zé Lucas adorava cachorros. Tão logo ele chegava ao terreiro, os cachorros iam recebê-lo com grande alegria, principalmente o Malhado, pelo qual o Zé Lucas tinha um carinho especial.
Muitas coisas “aprendemos” com ele:
- Machadinha de pedra- Quando foi encontrada uma nos arredores da fazenda, ele dizia que a machadinha caíra durante uma tempestade, junto com os relâmpagos.
- Pintas pretas entre as patas dianteiras dos burros - O Zé dizia que os burros enxergavam, também, por aquelas pintas. Para provar, ele tampava com as mãos os olhos do “ Pimpão” (um burro da fazenda) e pedia para uma pessoa tentar colocar a mão em uma das pintas. O burro reagia logo.
- Arco da velha- (Arco Iris) - O Zé Lucas teimava que ele “bebia” a água dos córregos. Quando ele aparecia após as chuvas, ele dizia:-“o arco da velha” tá bebendo água no córrego do Jurumirim” .
- Cantar- Quando estava descascando milho no paiol, sempre cantava algumas modinhas. Quando chovia, ele gostava desta: -”Chove chuva, choverá, quem me der almoço, tem que me dar o jantar...”
- Rapé- Não abandonava a sua caixinha de rapé. Dizia que era bom “prus purmão”.
Gabava-se o Zé Lucas de ser o primeiro a trazer o macarrão para a região onde morava. O pessoal comentava que o Zé havia ido a Calambau e comprado a grande novidade, o macarrão. Como tinha que ir a Piranga, no dia seguinte, pediu a Sá Maria, sua esposa, para prepará-lo para ele comer quando voltasse. Tão logo o Zé saiu, a Sá Maria viu-se em apuros: como preparar aquela coisa parecendo goela de pato? Depois de muito pensar, ela encontrou uma solução: fritou o macarrão... Quando o Zé Lucas chegou, não conseguiu comê-lo. Dizem que, no mesmo dia, ele voltou à vila para saber como fazia aquela coisa.
Outra do Zé Lucas aconteceu quando ele foi se confessar para fazer a Páscoa, que o Padre Grossi denominava “Banquete de São José”, depois de muita pressão da D. Cici, que lhe dizia: -“Olha Sr. Zé Lucas, sem Deus a gente não consegue nada...o senhor bem que poderia confessar e comungar durante o banquete de São José !”. Na véspera da festa, foi o Zé Lucas, cedo, para Calambau. Na Igreja, além do Padre Grossi, mais dois padres atendiam as confissões. O Zé entrou na fila às oito horas da manhã e só apareceu na casa de nossa avó, D.Augusta, às oito horas da noite. Naquela época, era comum o pessoal da fazenda, quando ia à rua, passar na casa dela para tomar um café. D. Augusta perguntou-lhe, surpresa:- Que novidade é esta Sô Zé Lucas, o senhor por aqui a essa hora?
- É, Sá Dona Augusta, eu cheguei na Igreja de manhã para me confessar. Entrei na fila e, quando chegava a minha vez, ficava sem coragem e voltava para o final da fila. Foi assim o dia inteiro, até que não havia mais ninguém na fila e o negócio foi enfrentar o Padre Grossi!
O Zé era o matador de porcos da fazenda. Quando tinha de matar um, acordava cedo e vinha para a fazenda executar o serviço. Depois de morto, o porco era sapecado com palha de milho. Depois, o Zé Lucas abria o porco, tirava a barrigada, separava as bandas (partes com o toucinho) e tudo era levado para a cozinha. A partir daí, o serviço era feito pela D. Cici e suas auxiliares. O Zé era também mestre em amolar facas, foices, enxadas e outras ferramentas para as quais fazia, também, os cabos. Fazia balaios de taquara e outros apetrechos. Foi, também, tropeiro. Gostava muito de atirar com espingarda e carabina, porém não era bom de mira.
Zé Carneiro, nosso pai, comprou o seu primeiro automóvel, um Chevrolet 48. Certo dia, após uma forte chuva, tirá-lo da garagem não foi fácil, pois a partir da porta, havia muito barro e o carro não conseguia atravessá-lo. Apareceu o Zé Lucas que começou a empurrar o carro, gritando: “Sô Izé, pisa na colher do meio e bota força . Bota força sô Izé ! Foi até o carro sair...
O Zé Lucas foi uma figura marcante na fazenda Baía!
*********************
Murilo Vidigal Carneiro
Fazenda Baía/dezembro/98