Tensão Pré-Vestibular
Entrei no ensino médio pensando que após passar por esta fase onde, teoricamente eu teria que me esforçar mais, toda essa rotina de estudos iria acabar, mas estava enganado. Existe algo depois. Algo que assombra milhões de pessoas, o vestibular. Meu nome é Pedro, e este é o relato de meu pesadelo.
Quem começou a ler agora e achou a palavra pesadelo um exagero, e que uma prova não pode ser tão má, está enganado. Você, caro leitor, que pensou dessa forma, provavelmente não prestou vestibular em uma faculdade pública. Quem o fez, sabe do que eu estou falando.
Não é apenas uma prova, é o seu futuro encarnado no diabo. Não é apenas um dia de prova, são vários dias de tormento. Não é apenas um dia de ansiedade, é um ano inteiro de medo, isso se você passar de primeira.
Bom, já falei demais sobre a prova, agora quero contar minha estória.
Eu comecei a pensar no vestibular enquanto ainda estava no 2ª ano de purgatório, ou se vocês preferirem 2ª ano do ensino médio. Naquela época o vestibular não passava de uma prova para mim, ele não representava uma ameaça. Ah! Pobre de mim, não sabia o que me aguardava, eu era feliz e não sabia. Bom, nem tão feliz assim, mas isso já é outra estória.
No ano que acabei o ensino médio, dias antes da prova o assunto entre meus amigos e eu era só a maldita prova. Todos nós sabíamos que nós daríamos mal, mas naquela época isso não importava. O importante mesmo era ir fazer a prova, voltar vivo e poder dizer: “Agora sou oficialmente um vestibulando, ano que vem eu passo!”.
Quase todos nós fomos fazer a prova, apenas um de nós da qual não me recordo o nome no momento, não fez a prova porque teve o azar (ou a sorte) de se perder no caminho. Mesmo não lembrando o nome dele, tenho a certeza que ele não era dos mais inteligentes.
Da turma que fez a prova, ninguém passou. Mas como esse era um resultado esperado, todos já estávamos matriculados em nossos respectivos cursos pré-vestibular.
Foi ai que minha tortura começou, achei que tinha deixado a escola para trás, afinal eu era oficialmente um vestibulando, um pré-universitário, mas ao chegar ao meu curso, vi que havia me enganado novamente, a única diferença daquele lugar e o ensino médio, era que a idade das pessoas era mista.
Daquele dia em diante a tortura escolar continuava e a cada dia piorava. Meus dias eram de casa pro cursinho, do cursinho pra casa. Lógico que a velha turma se reunia às vezes para esquecer a batalha no fim do ano, mas essa era uma tarefa difícil, geralmente ficávamos discutindo táticas de batalha para a prova.
Quando se está pensando em presta vestibular, existem poucas coisas que podem tirar esse demônio da sua cabeça, a única que consigo pensar agora é o amor, mas nessa época estava tão atormentado que não consegui me apaixonar por ninguém. Ainda hoje não consigo, deve ser por causa de sequelas desse tempo.
Passou-se um ano desde jeito, sem mudanças na minha vida, um ano inteiro de cursinho sem alegrias, só preocupações.
Finalmente chegou o dia da prova, todos os meus amigos fizeram a prova no mesmo lugar que eu. Nós nos cumprimentamos de um jeito calado, quase imperceptível aos outros. Quando alguém dizia: ”Boa Sorte”, apenas respondíamos um: ”Obrigado” ou “Igualmente”, mas tudo isso de um modo contido para não perdermos a concentração, pois estávamos lá concentrados e prontos pra batalha.
Finalmente chegou a hora da prova. Sempre escutei que essa é a pior parte, eu não acho. Acho que essa é a melhor parte, porque é a mais objetiva, ou você sabe ou você não sabe. Não é necessário estresse na hora da prova, este é o único momento que você sabe que seu tormento está prestes a acabar. Fiz a prova relaxado, mostrei pra eles tudo o que eu sabia e o que eu não sabia.
Quando se acaba uma prova assim, o normal é se sentir relaxado e sair para comemorar, mas como a vida não era tão boa comigo, eu ainda tinha a segunda fase, que eu nem sabia se tinha passado, portanto não poderia relaxar ainda.
O tempo de espera para saber se eu passei pra segunda fase e o tempo para o dia da segunda fase são menores que o tempo para a primeira fase, porém a intensidade da ansiedade e o medo são os mesmos.
Não descreverei meu sofrimento durante esse tempo de espera para a segunda fase, porque eu espero que você leitor, já tenha entendido a minha condição nesse tempo de espera e no momento da prova.
Acho melhor mentir para vocês agora e dizer que eu passei no vestibular nesta minha segunda tentativa, pois não pretendo escrever um livro do tamanho da bíblia e tenho consciência de que a estória ficaria muito repetitiva se eu continuasse.
Após ter passado no vestibular minha vida melhorou, não muito, mas melhorou. Até consegui uma namorada algum tempo depois. Eu a conheci quando comecei a me tratar por causa das sequelas do vestibular, ela é psicóloga.
Hoje minha vida está um pouco melhor do que naquela época, provavelmente por causa dela, mas não porque eu sou apaixonado por ela, pois como eu disse lá no começo, eu sou incapaz disso, e sim porque ela é a única pessoa que consegue me acalmar quando eu acordo no meio da noite gritando: “Eu tenho que estudar!!! Onde estão meus livro??? Onde estão meus livros?”.