SINTO SUA FALTA
Ninguém parece se importar comigo, não falam nada se chego tarde, não me ligam no meio da balada pra saber onde estou, se tô legal... não me perguntam as quantas vão a faculdade, se tomei o xarope, se tenho dinheiro pra condução...não querem saber se me ferrei na entrevista de emprego...
Sinto sua falta...
Na hora de dormir, ninguém me dá boa noite nem bom dia pela manhã, não tem mais ovo mexido e também não mexem mais no meu cabelo, o café nunca está na mesa, nem o almoço, nem o jantar. O sanduíche só se eu pagar e o suco só na caixinha.
Não sabia que custava tão caro o rango, o remédio...e que pra tomar o remédio tinha que pagar o médico, o dentista custa os olhos da cara, assim como a energia e a conta de telefone...nunca tinha me tocado que as garrafas de água da geladeira, tem que ser abastecidas e o rolo de papel do banheiro tem que ser trocado quando fica só aquele canudinho.
Nunca pensei que sentisse tanta falta das broncas por causa das toalhas úmidas em cima da cama, das meias dentro dos sapatos molhados...nunca mais cheguei na hora, não me alimentei na hora, não paguei a conta no dia, minhas roupas nunca tiveram tantas rugas, não recebi um abraço demorado, não me senti amado e importante.
No natal me esqueci de você, porque só você podia me lembrar, mas não o faria.
Sinto o reflexo das orientações, mas, algumas eu esqueci, não tem mais quem me lembre diariamente “economize, escove os dentes, levante, vai se atrasar”...que coisa absurda, meus joelhos doem e não foi por falta de aviso, a coluna reclama do computador, também não me faltaram advertências.
Meus documentos até hoje não sei onde foram parar, não tenho tempo pra falta de tempo, atropelei tudo, tantas coisas eu deixei de fazer quando pude que agora a carga de acúmulo é pesada demais e não tenho mais com quem dividir.
Se eu pudesse remontar as memórias e tipo “Efeito Borboleta”, eu não desperdiçaria mais você, nem toda essa vida que como areia fina se esvaiu pelo ralo do tempo.
Sinto sua falta mãe.
Du Valle