Município, município...
O velho Clube dos Caixeiros com o passar dos anos passou a se chamar Clube Caixeiral. Um prédio imenso, com salão e copa. Lugar de muita alegria, além de bailes inesquecíveis. Mas o tempo passou. Vamos ver o que aconteceu.
Clube mal gerenciado em suas contas bateu as portas, mas não sem antes mostrar sua importância. Mui condigno prefeito tratou de dar um jeito, adquiriu o prédio para a esfera pública. Deve ter sido uma grande felicidade para alguns.
Os sócios remidos foram levados, competentemente para o Clube do Comércio, mais conhecido como Clube Comercial. Essa aquisição em montante não revelado ao público, talvez por desinteresse dos meios de comunicação; baseou-se na divida ativa do clube para com a prefeitura. Os demais clubes em mal estado de conservação minguam sem o mesmo privilégio e continuam a deriva. Vale sublinhar que a compra de um negócio quebrado por parte da área pública é sonho de todos os falidos. Mas esta redenção tornou-se privilégio de poucos.
Hoje mora no gigante e decaído prédio do antigo clube Caixeiral uma Biblioteca Pública que fica na antiga e adorável copa. Lugar de muita bebida e carnaval. Dá para perceber que tudo está improvisado da “melhor” maneira possível. (A original Biblioteca Pública do passado que habitava prédio modesto com seus livros encantados serve atualmente de morada aos vereadores. Vereadores sem biblioteca).
Também a Secretaria da Cultura habita solene o velho e vendido Clube Caixeiral conjunto com o pequeno museu de ossos exumados do passado remoto a que se dedica. Temos uma pré-história bem viva em nossa lembrança o que faz esquecer todo o resto.
Mas sobre prédios gigantes o Porto Pindorama tem a bola da vez em termos de extravagância na história municipal. A grande edificação abandonada, graças a era das rodovias, foi inteiramente reformado por dentro e por fora. Essas coisas da utilidade pública, mas com um porém devastador: Continua hermeticamente vazio. Sem nada. Lá se foram dois a três anos de dispêndio. O grande e morto prédio “renovado” serve apenas de cartão postal para o “turismo” quase inexistente. Lindo emblema das peças publicitárias. Nem sequer uma escolinha de beabá. Estabelecimento portuário no Brasil que se recusa a ser mercado público. Se tirassemos xerox de todo dinheiro investido e colássemos de alto a baixo, por dentro e por fora todo o dinheiro dispensado no grande prédio do Porto Pindorama faltaria espaço para tanto dinheiro xerocado. É a impressão que se tem porque ninguém sabe a quantia exata destinada para tal obra de grande porte. Talvez uns quatrocentos mil reais imobilizados, murmuram as más linguas. Os meios de comunicação da localidade sequer alimentaram alguma curiosidade sobre prédio reformado em desuso na frente do cais do porto. A ciclovia indo na mesma direção está até hoje inacabada. Coisa de alguns anos.
Cédulas ao vento temos também a praça pública. Foi uma das mais belas do Brasil. Cultivada por mãos caprichosas. Praceiros com talento de Burle Max. Está ainda recebendo tratamento fantástico a título de modernização. (Devem ter se passado dois anos de obras e está ainda inacabada). Entre a esquina e o coreto haviam pedras colocadas uma a uma como num mosaico rústico de pedra batida. Tudo arrancado para dar lugar a tijoleta frágil onde hoje os meninos de skate pulam para comprovação antecipada dos resultados. A Rosa dos Ventos possuía floreira com tijoleta oriunda da itália. Descritas em ata pública. Foram removidas e danificadas no intercurso da competência. Inexplicavelmente. Os “caminitos” que são os caminhos naturais da praça, receberam uma altura nova de terra bruta, interceptando os passos em busca de rumos. Os passos agora são desviados e desorientam o transeunte pronto para alcançar algum destino fácil. O espaço verde diminuiu quando em todo o país estão buscando ampliações. Esplêndido? Tudo em silêncio. Acontecendo visualmente como reforma e desenvolvimento. Dinheiro brotando em árvores, voando no ar da eficiência. Tudo nos leva a crer que a Prefeitura Municipal “edificante” vive o impasse de não saber aonde deve dispender tanto dinheiro arrecadado dos cofres públicos. Nós professores continuamos com salário de professor Raimundo.
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Não é a falta de dinheiro que nos faz padecer, município. Há muito dinheiro para renovar o o porto com seus navios fantasmas, há muito dinheiro para compra de um clube abandonado. Só não há recursos para o hospital. O hospital para o seu Antonio da Casa Marcos que é obrigado a seguir para Pelotas. Duzentos e cinquenta quilômetros aproximadamente.
Faltam recursos técnicos no hospital.
Ah, município, que espécie de amor pelos teus filhos!
Município que sempre viveu queixando-se de isolamento e nunca se aparelhou para sobreviver nas horas mais extremas. Município da Prefeitura das grandes obras, município dos grandes latifúndios.
Não é falta de recurso. Não é por falta de recurso público que este país perde seus filhos.
Como seu Antonio todos nós vamos precisar de hospital na hora extrema e faltará recurso. Do hospital para Pelotas todos sabem que não há mais nada a fazer. A viagem é longa e o tempo é curto. Em Pelotas sim há recurso. Aqui perdemos a noção de prioridade.