AS MULHERES DAS ZONAS DE BELÔ !

Bem no início da década de 70, aqui em Belo Horizonte, passei a ter contato com suas zonas boêmias. Até então, somente conhecia a do “Cascalho”, em Raposos e, “Maria Leite”, em Nova Lima.

O risco de ser pego nos corredores das zonas era muito grande, pois afinal de contas era menor de idade. Mas, o desejo falava mais alto e sempre corri o risco. Sempre que aparecia um policial, o porteiro dava um silvo e saíamos correndo escadas afora.

Nessa ocasião, eu era o Presidente da República dos estudantes. Morávamos no Bairro Coração Eucarístico.

Machado de Assis – grandissíssimo representante “Maiúsculo” (permito-me a redundância) de nossa literatura - dentro de seu Realismo notório, chamava francescamente, nossas zonas, em seus Romances, de “rendez-vous” – “espero você”.

Belo Horizonte, nascida no início do século passado, possuía locais específicos a tudo; pois fora uma cidade traçada, projetada – a Cidade Jardim.

As zonas ocupavam a região do hipercentro da cidade, local do comércio atacadista, nos logradouros da Santos Dumont, Guaicurus, Oiapoque; na região da Lagoinha (havia um lago pequeno), as ruas Jaguarão, Paquequer e Bonfim eram as que mais se destacavam.

No Prado e Floresta, bairros mais afastados do centro e por isso já selecionavam os freguese, havia as principais zonas. Destaque para “Zezé” que desfilava belas mulheres em seu salão.

Os hotéis onde as zonas se instalavam, possuíam os nomes mais “sui gênesis”: Lírio, Damasco, Vesúvio …

Das obreiras, em cada local, uma se destacava: no Lírio, a Dama de Azul era a representante noturna – “à noite, todas as gatas são pardas”. No Damasco, a Dama de Lilás se sobressía pelo seu cheiro – Perfume de Gardênia - que além de aromar seu corpo, o litro (realmente era vendido em litro) enfeitava sua penteadeira. No Vesúvio havia a Dama de Vermelho, tida como um vulcão em erupção, combinava sua cor, com as lavas e o sexo.

Hilda Furacão, personagem enigmática da região da Lagoinha, também entrou para história em Belô. Um conhecido, do meu conhecido, disse uma vez que, segundo o conhecido de um conhecido dele, que esteve com ela (e) ficara deslumbrado com seu esplendor. Mas, segundo esse outrém ao cubo, quando de quatro, sua mão apalpava um cacho nela (e). Seria a loura do Bonfim? A região é a mesma!

Por andar, os vários quartos que estavam com as portas abertas, as meretrizes estavam no aguardo de seus clientes. Mas em alguns, em suas portas, havia filas.

Não foram raras as vezes, em que tive que esperar uns dez senhores serem atendidos primeiro, porque, por detrás daquela porta estava a preferida.

Comum era, quando adentrávamos o quarto, a profissional do sexo estar de cócoras sobre uma bacia com água, asseando sua ferramenta de trabalho, bem de frente para quem no aposento, entrasse. Ali iniciava a nossa preparação psicológica para o ato. Também, para dar maior motivação, era comum, que ela deixasse a toalhinha íntima presa na fenda do prazer, para que na cama, viéssemos retirá-la. O ritual de vestir e retirar a calcinha, não dava tempo, era perda de tempo para ela.

O cheiro comum que exalava pelos corredores dos hotéis era tradicional. Não sei se era devido ao Perfume de Gardênia, ou se por ter tantas partes íntimas obrando ao mesmo tempo: de cheiro em cheiro, o cheiro do sexo atritado tornava-se mais avolumado, mais forte!

Fatos pitorescos não deixaram de acontecer. Certa vez, uma companheira deu uma estrebuchada, enquanto eu consumava o ato, que me deixou preocupado. Pensei que ela estava morrendo e passei a me indagar se havia sido muito contundente, com o meu membro. Mas que nada! É que ela tinha passado por uma madorna, enquanto eu me deleitava.

Outra, disparou a chorar. E eu a perguntei se lhe havia machucado, pois segundo algumas, realmente era bem dotado. O que foi que ela me respondeu, é que estava assistindo a novela da TV Tupi, o Direito de Nascer e se emocionou com a cena do personagem, Albertinho Limonta.

Como Presidente da República, fazia mensalmente, as compras para o abastecimento de nossa despensa. Uma coleta de preços realizava e, quase sempre as vendas do “Júlio, o mais amigo” e do “Medradão”ganhavam a concorrência.

Usando da posição ocupada, ao realizar as compras nesses estabelecimentos comerciais, fazia contatos com as atendentes e as convidava para uma escapinha à noite.

Saí com uma, certa vez, e a levei a um hotel na Avenida Santos Dumont – era o que melhor preço tinha. Ao chegar, quem estava como porteiro era o Sr Benígno, meu conterrâneo. Brincando, fez uma diferença na hora para mim e me sossegou, dizendo que poderia ir para o quarto que ele colocaria o relógio para despertar no momento certo. Que eu ficasse sossegado. O relógio despertador ficava bem à sua frente, no balcão.

Em meio ao devaneio de atos e fatos ouvimos o relógio despertando na portaria. Que pena! Nos vestimos e fomos pagar a quantia estipulada. Quando lá chegamos, qual foi a nossa grata surpresa quando Sr. Benígno veio nos dizer que podíamos voltar, pois aquele despertar era para outro casal.

Que alívio! Voltamos e recomeçamos, não do ponto que havíamos parado, pois tivemos que passar por novas preliminares, até que eu retomasse a posição de escoteiro: “Sempre alerta!” Que para nós é mais difícil.