Olhos que olham
Um dia eu olhei com olhos de criança pobre
Para mim mesma sem compreender o certo
Por que minhas roupas eram sempre semi-novas?
Os sapatos eram usados,
Olhando meus irmãos percebiam
Que o lado deles era pior
Pois eles usavam o que de mim apertava
Enquanto eu crescia.
Olhando meu pai trabalhando,
De sol a sol dando duro,
Para que não nos faltasse;
Casa, comida, e estudo.
Estudo que este não teve,
Pois desde cedo trabalhava,
Só teve a escola da vida,
Que te dava e te tirava.
A lagrima escorria do olhar,
Eu enxugava num piscar.
Hoje olho com olhos de adulto.
E não olho só para mim,
Vejo que ainda tem crianças,
Que não tem o que eu tive:
Roupa, sapato, estudo,
Casa, comida e amigos.
Para dormir nem uma cama,
Nem se quer um cobertor,
Olhos vêm e não enxergam,
Um pedido, um favor,
Ouvidos param e não ouvem;
Um pedido, um clamor,
A lagrima escore um olhar
Dessa vez deixo correr.
Apenas o que contenho
É uma revolta enorme
São muitos e muitos a precisar,
E poucos que eu possa ajudar.
Hoje sei que fui feliz com o pouco que tinha,
Talvez se esses o tivessem,
Mais feliz seriam.