Lá da arquibancada (Ceará 2x2Flamengo)

Como explicar essa nossa paixão? Até parece texto de um romance, mas é. Como falar desse amor? Desconhecidos que se falam como se fossem amigos deste a infância, abraços que demoram a eternidade de um gol - com pessoas ao lado que ao menos sabem os nomes, como explicar aquilo que é inexplicável.

Assistir a um jogo lá da arquibancada é mais doloroso quando a noite está abafada, com pingos insistentes de chuva que teimam em cair e com uma lua escondida por entre as nuvens, quando somado esses fatores, multiplique a agonia 7 vezes mais.

Começou assim ontem, na minha visão. Desconhecidos, anônimos, estranhos por assim falar - mas todos reunidos e unidos diante das suas diferenças - união por duas cores: o preto e o branco. Nada mais contratidório, nada mais bonito. Quando todos juntos de pé cantam em uma só voz - "Vai começar a festa" - é o prenúncio, é uma profecia daquilo que virá.

E a quando a festa começou lá da arquibancada lotada e sem espaço para mais nenhum aflito coração, tentaram estragar. Convidados nada queridos, pelo menos na noite de ontem, tentaram colocar água no chopp dos anfitriões. Por duas vezes fizeram a festa parar, por 2 vezes a carroça ficou pelo caminho.

Mas aquela noite de 24º C e forte calor, reservou para os religiosos torcedores um jogo memorável, quem viu vai demorar pra esquecer e quem não viu perdeu uma ótima oportunidade de testar a resistência e colocar a fé em prática.

Se estava atrás por 2 gols, tinha que voltar para o caminho certo. E voltou - depois do primeiro, ninguém pensou que tão rápido sairia o segundo. Pronto, tudo igual - dois pra eles, dois pra nós - e agora?

Agora começa a agonia, se o primeiro tempo levou aquela multidão à euforia, o segundo tempo não poupou o coração de ninguém. Foi nessa hora do jogo que mais ninguém ficou sentado, como se todos a cada lance entrasse em campo e com seu olhar levasse a bola ao gol ou a defendesse junto com o goleiro.

Por falar em defesa, bendito seja o goleiro, que pelo menos da boca de uma torcedora recebeu a graça dos céus para não deixar a bola passar, e não passou mais nada.

Aos 30 minutos, alguém puxou um grito de incentivo. Inútil. Naquele momento só o tambor que ficou rufando solitário vindo de algum ponto da arquibancada parecia ampliar a soma das batidas do coração de cada um.

A agonia e a aflição foram até o final, depois que um, dois, três e quatro minutos de acréscimos se passaram como se fossem 10 minutos para cada um dos torcedores, ninguém mais segurou o grito. A festa tinha começado e não teria mais hora pra acabar. "Sai do meio, que a carroça tá sem freio".