PARQUE DA VIDA
Não são todas as pessoas que são dotadas, ou aprenderam, a ter sensibilidade para admirar uma obra de arte, gostar de visitar palácios, igrejas, assistir peças teatrais, sentirem-se fascinados com um bom filme, enfim , ter um olhar para a beleza.
A admiração pelo belo, com certeza, tem a ver, especificamente, com o estímulo dos pais. Sei que em outras instâncias e, em outra fase da vida, pode ser despertado para a arte, a beleza, mas fundamental é a influência na infãncia. Determinada ocasião, estávamos no Rio de janeiro e eu queria ver uma peça com Paulo Autran – era um monólogo, chamado “Quadrante”. Meus filhos, crianças, não poderiam ficar no hotel; a solução era levá-los e pedir a Deus que , pelo menos, dormissem. Eles vibraram e o grande ator conseguiu, com seu vozeirão, entusiasmar e conseguir fazê-los acompanhar cada texto dramatizado. Tinha um que falava no “Padre-Nosso” e o ator recitava, acrescentando outras falas interessantes, fazendo a platéia rir e meus meninos também. Foram surpreendentes as reações deles e, mesmo após a peça, um comentava com o outro e repetia algumas falas engraçadas que gravou das falas do ator. O ser humano sempre é capaz de surpreender!
Quando meus três filhos estavam em plena adolescência, o caçula com quinze anos, resolvemos levá-los à Europa. Julgávamos que eles fossem se aborrecer com o Velho Mundo e se sentirem enfastiados. Era uma época em que o dólar estava par a par com o real; foi a última viagem que conseguimos reunir os cinco. Fomos observando o interesse, a motivação e o entusiasmo por tudo que viam e visitavam. Juntaram-se com uma colega de excursão, a hoje dra. psiquiatra Suzana Bernardes e eles partiam de ônibus, de metrô, a pé e iam desvendando o novo em oito países europeus. Não deixavam de ir aos Hard Rock, comprar camisetas, bonés, ou apenas para conhecer um local que, ainda hoje, é uma atração, principalmente, para adolescentes.
Vou, recentemente, conhecer o Parque Frogner, em Oslo- Noruega, onde estão as belíssimas esculturas do artista norueguês, Gustav Vigeland. Seu trabalho é, predominantemente, em granito, embora tenha feito algumas peças em bronze. Suas esculturas foram batizadas de Círculo da Vida. Parque me remete à distração em espaço público e arborizado. Embora estivesse, na ocasião da visita, com muitas crianças, senti como se fosse um lugar para reflexão sobre o desenvolvimento do viver, conseguindo colocar, nas inúmeras e grandes peças, o ciclo entre o início, meio e fim e que a vida , tal como um círculo, é um processo contínuo. Vi, com todos os altos e baixos da idade, este Parque que batizei-o da Vida. Senti falta da companhia dos meus. Sei que pela sensibilidade que foram dotados, ou aprenderam, iam ficar embevecidos diante de tanta beleza.