Coisas da minha cabeça
Hoje eu descobri o quanto o trabalho me preenche a vida e não me deixa margem para a viver de forma plena e livre. Não é relevante a noção da importância daquilo que assumimos como prioritário, independentemente de, mais do que um emprego, ser uma missão. Concluí que o meu sistema imunitário se tem vindo a ressentir não só com o infindável e imperturbável inverno, mas também com a falta de tempo que dedico a mim mesma, mais concretamente à minha saúde fisica.
Para quem me conhece e me reconhece na forma descomplexada como abordo as questões que, habitualmente, as mulheres da minha idade tendem a disfarçar, penalizo-me pelos anos em que não fui às consultas da minha médica de família e me recusei a seguir os seus conselhos amigos. O trabalho, sempre o trabalho, a família, os outros, sempre à frente do meu bem estar e o querer encarar naturalmente o tabú da menopausa que, quer queira quer não mexeu comigo e tem dias que me remete para o patamar de uma cidadã de segunda ou terceira categoria, com falta de qualidade de vida, talvez por ignorância, ou até por negligência minha. Todo um acomodar e aceitar de vicissitudes que sempre considerei naturais.
Hoje eu temi as consequências da minha hipertensão. Mas, será que amanhã, quando me levantar e pensar no que tenho que fazer no serviço, nos serões no trabalho, em casa, na comida que a família gosta, não vai voltar tudo outra vez?
Desculpem-me as senhoras que não assumem que aos cinquenta anos se possa estar na menopausa, que se acham lindas, que acham a idade irrelevante. Infelizmente, nem sempre os astros conspiram a nosso favor e eu acho-me linda interiormente e é quanto me basta.