Entre a paixão e o amor

A noite feroz engole a insatisfação de um dia cansativo, informações jorram tédio feito vento e ainda mais exaustivo pensar na calmaria do amanhã,quando quase posso adivinhar a vontade de fugir da realidade que cerca, aflige e invade os calos irreversíveis. Diante o desagradável calo e ainda persiste a ingratidão das falas miseráveis no instinto infantil de fingir. Finjo o talvez não haver nada além daquilo que não vejo. Pois preciso disso, é uma necessidade vital de saber que o que me rodeia não é em vão. Não é ação e tampouco pensamento. Trata-se da dúvida entre um amor já conquistado, já consumado e uma paixão tão antiga quanto nova. A dor chega a invadir a dúvida, sinto-me traindo os maiores sentimentos que guardam minha angústia, meu passado.

Uma parte de mim cuida da história, outra fraqueja contra o futuro e ambas se encontram num pessimismo feliz. Estou perdida no encontro de três almas iludidas e mal amadas. Preciso matar alguém, mas prefiro optar por entregar minha própria vida ao vento. Entregar-me à fatalidade de não saber decidir, pois em matéria de decisão não me atribuiu à miséria lua do meu signo. Noite... dia... todos os dias... as noites! Não me surpreende a solidão me abraçar tão de repente. Terminei só como os amantes dos livros exprimindo suas saudades através dos óculos sisudos em uma biblioteca antiga e quase abandonada, sentada como se o mundo esperasse a ruína preguiçosamente. Preciso de possibilidades, de um oráculo ou talvez um deus que me impunha à situação. Gostaria de viver noutro século, sem prisões ou academias.

Sinto-me tonta. Sou uma tonta. Rodando sem cair no chão. O corpo devia rodar sem parar, naturalmente como os fatos, porém o medo me ataca pelas costas e fere a biografia dos meus ais. Queria me perder e só me encontrar num invisível distante, já saturado de emoções e inseguranças do amor, de paixão. A água quando bebo é gelada e, no entanto, desce garganta abaixo feito fumaça: espessa, quente e maligna. Preferia fumaça que eleve as idéias ao ponto máximo. Não por ser o máximo de mim, mas por não captar o mínimo que se esconde na caverna de minha genealogia.

Construímos o mundo e só há destruição! Construímos a saudade, o amor, mas a traição o pertence; construímos a razão e a loucura se questiona junto a ela. Construímos tudo, mas ainda falta preencher todas as lacunas vazias. Construímos duvidas, medos. Mortes, angústias e alegrias... Mas a vida persiste na indiferença mórbida de nada passar despercebido.

Minha droga passa de mão em mão. Desconheço-me, descalço os pés e os pouso no chão. Pausa. Passa de mão em mão minha droga maior, meu desejo, meu beijo, minha vontade de me matar.

Shauara David
Enviado por Shauara David em 12/05/2011
Código do texto: T2964943
Classificação de conteúdo: seguro