Empresas, subproduto das pessoas

O que é uma empresa?

É uma instituição criada para ganhar dinheiro. Ou seja, uma porção de “gestores” dos quais dependemos para arranjar um emprego e viver com o mínimo de conforto material. (na definição de um amigo que hoje trabalha numa multinacional americana). Certamente a primeira idéia que surge na mente do indivíduo comum como estímulo à presença imediata desta idéia é um prédio. Um edifício. Uma fachada. Um abrigo para as pessoas e bens materiais que comporiam aquela idéia de empresa. È possível que a concepção formada à primeira vista, seja em função da imagem mais freqüente ou até das primeiras que tivemos ligadas à idéia. Neste caso, também é possível que estejamos próximos da realidade e que a imagem comum seja um espelho da realidade.

Se a pergunta anterior for feita em relação à palavra “treinamento”, de imediato nossa mente nos reporta a uma sala com um grupo ouvindo a um ministrador e / ou interagindo entre si e com esta pessoa a conduzi-los. Somente depois é que pensaríamos no assunto. Mais uma vez aí está presente o nosso histórico, entretanto, se a imagem estimulada pela pergunta for formada na mente de quem jamais passou pela experiência, poderá ser bem diversa. Talvez associada a treinamento físico-esportivo, manobras militares, ou demais imagens contidas na memória e que servirá de referência na ocasião do estímulo à pergunta.

Seja qual for a situação, quase nunca há uma idéia em que não se formem imagens.

De acordo com minha experiência, isto é, as imagens que me são estimuladas, todos os treinamentos visam a saúde da empresa de maneira direta. São aplicados treinamentos primários considerando cada pessoa como um elemento apto a agir como os outros elementos. As diferenças entre eles só são levadas em consideração como parâmetro para que se determine o grau de produtividade e eficiência. As providências para adequação são tomadas sob a ótica da uniformização produtiva da atividade. Para isso existem diferentes métodos importados de culturas diferentes (embora com indivíduos passíveis da mesma atenção nos países de origem), sem muita ou nenhuma adaptação ao público que encontrará. Os dois vetores mais freqüentes desses fatos são: O interesse do multiplicador interno em repassar o que viu e/ou absorveu, demonstrando o resultado do investimento em sua viagem / treinamento e o interesse financeiro da entidade terceirizada promotora dos treinamentos. Esses motivos “pessoais” tão desconsiderados quando se trata do grupo, mas que se mostram importantes quando se trata dos ministradores deixam quase totalmente os indivíduos a mercê do entendimento do que seja realmente útil. A vantagem que o terceirizado pode ter como ministrador é o desconhecimento das limitações da empresa contratante. Vantagem, porque pode criar uma consciência nos alunos sobre o mundo, que ele, poder ser mais avançado do que o universo da empresa em que trabalham, (nas interações, os colegas também podem fazer essa mesma ampliação de universo, principalmente nos treinamentos em que se agrupam pessoas de empresas diversas). No entanto, os pacotes padronizados dessas terceirizadas também desconsideram as diferenças. O enriquecimento que cada pessoa treinada leva consigo, muitas vezes servindo-lhe pela vida, é na verdade um subproduto do que a empresa obteria supondo-se um pleno aproveitamento.

A pergunta é: quando haverá um sistema de evolução do indivíduo?

A resposta pragmática daquele amigo da multinacional americana é: "Quando ficar provado para os grandes empresários e/ou acionistas que isso vai aumentar seus lucros." Obviamente, mais uma vez, ele tem razão. Mas nenhum dos progressos conseguidos para que os empresários aumentassem seus lucros deixaram de passar pelo fator humano. Mesmo as máquinas que produzem, são produzidas direta ou indiretamente pelos cérebros humanos. Tomamos por exemplo, a escola técnica que forma o técnico, tão sujeito à individualidades quanto possível. A escola de administração forma o administrador, tão exposto a si quanto seu cargo. Seja pesado ou não, ou até nem dependa disso para que a haja a exposição de suas falhas. Tal como existe o ISO 9000 e tantas outras ferramentas de controle, ainda não há uma voltada para o indivíduo. Uma ferramenta enriquecedora dos indivíduos. Que lhe faça brotar o talento sufocado pelos mais diversos padrões, sejam eles de controle, fiscalizadores, normativos, etc, e que cuja existência, considerada necessária, não atrofie o elemento chave do conjunto produtivo. Uma que considere as diferenças e que sua utilidade, mesmo de mensuração difícil, seja valorizada pelas empresas. Pelo que tenho visto, este tem sido um ponto cego das culturas empresariais com uma área de conflito não atribuída corretamente, justamente pelo fato de não ensejar resultados imediatos e de volume visível comparado com assuntos de obtenção numérica direta.

A exemplo das doenças silenciosas, a desatenção real e sincera às pessoas como membros integrantes do organismo vivo que é a empresa, também pode lhe causar uma vida de “dores inexplicáveis” mesmo que pareça saudável e moderna. Seria uma espécie de síndrome dos pés de bailarina. Graciosos coadjuvantes, base de seus movimentos e escravos mudos das ordens do cérebro distante em função da necessária execução da obra.

Ao sair de um treinamento, principalmente os que não envolvem ações físicas, (operações de máquinas) tem-se a sensação de que não se foi visto, foi-se exposto. De que não foi consultado, apenas perguntado e as suas respostas já se encontravam prontas e embaladas para serem dadas ao primeiro sinal, tal o lugar comum que se tornaram os focos que todos trazem de antemão num pacto de sobrevivência de palco encenado. Não se trata de democracia, poder de grupo ou coisa semelhante. Trata-se de individualidades com registros diferentes de mundo.

Índices de satisfação têm sido usados quase com o mesmo significado coletivo de clima organizacional, no entanto seus indicadores mascaram suas raízes. A frieza técnica das investigações, ou mesmo a austeridade de seus métodos podem ensejar sonegação de perfis reais nas raras entrevistas de casos pontuais.

Ao contrário dos objetivos clássicos, as pessoas poderiam ser educadas de modo que a empresa, a família e a sociedade aproveitassem o subproduto do enriquecimento do indivíduo. A naturalidade com que surgiriam os frutos desse foco só se pareceria com a motivação, (aquela de diagnóstico mais detectável). Talvez por esperar que as pessoas já trouxessem consigo essa capacidade, ou por assim dizer, por não ser um método que visasse retornos objetivos, essas individualidades têm sido subestimadas.

É inegável a clareza do pragmatismo na instrução dos membros de “moderna corporação”, mas é obscuro o seu efeito psicológico em cada um dos indivíduos, que a podem sentir de formas diferentes, por mais que pareçam recebê-la bem.

Mais profundo seria a associar-se o pragmatismo de cada um à proposta de um programa de treinamento e acompanhamento individual das evoluções dessas pessoas. Cabeças que sabem se situar no mundo saberá o lugar de cada valor seu, da empresa, da família e da sociedade não interessando, neste caso, em que ordem porque cada uma dessas partes terá a atenção na medida exata.