ÉGUA DE GENERAL

Meu amigo Geraldo Vilaça, hoje habitando os campos superiores, era um gozador nato, sujeito engraçado, brincalhão e muito espirituoso. Dono de uma simplicidade exemplar, descia do alto cargo de Vice-Presidente daquela organização multinacional, em São Paulo, para se juntar aos funcionários dos diversos setores, conversando sempre com um e outro, dos chefes aos subordinados, tratando-os pelo nome e demonstrando grande intimidade com todos os seus comandados.

Adorava uma piada bem contada, um “causo” novo, mormente os que envolviam personagens da roça, os caboclos do mato, os capiaus como ele dizia, mineirão do interior que ele era, bastante ligado às suas origens. Depois do expediente, então, numa rodada de chope gelado seguido de caipirinha, a conversa seguia animada, entre risadas estrepitosas e jogos de palitinho. O homem era um comunicador admirável, um líder nato.

Quando moço, serviu ao C.P.O.R de Belo Horizonte e foi da arma de “Cavalaria”, ocasião em que fez grandes amigos nesses tempos de caserna. Talvez tenha adquirido aí uma expressão interessante, a qual usava amiúde, mormente quando passava por ele um tipo faceiro, uma bela mulher:-

“- Égua de general! ...” – e soltava a inconfundível gargalhada, sua marca registrada.

O Vilaça adorava passar trotes nas pessoas, principalmente nas secretárias e moçoilas da organização que ele presidia. Mandava vir de Curitiba caixas de um bombom especial, feito de rolha e envolvido por grossa camada de um chocolate delicioso. A secretária, Cida, adentrava a sua sala pra levar um cafezinho e ele, gentil:-

“- Cida, minha filha, prove esse bombonzinho especial! ...” – entregava o mimo à secretária e prestava bastante atenção nas suas reações.

“- Ora, “Seu” Vilaça, quanta gentileza! Muito obrigada! ...” – derretia-se a moça.

Desembrulhava o bombom, pegava-o com delicadeza, conduzia-o até sua boca de carmim com elegância sem par e cravava os dentes na guloseima. A seguir, um grito:-

“- Aiiiiii, meu Deus do céu! Mas o que é isso?...” – e saia da sala do chefe cuspindo pedacinhos de rolha pra todo o lado.

O Vilaça soltava a sua velha e boa gargalhada, os assessores chegavam sorridentes ao gabinete para testemunhar quem era a vítima da vez, enquanto a Cida fugia quase no galope de tudo e de todos.

Trabalhei e convivi com ele na organização por mais de quinze anos, aprendi muito e privei da sua sincera amizade, até que nossos caminhos tomaram rumos diferentes a partir de Brasília, nos anos 80. Volta e meia sua figura me vem à lembrança, como hoje, por exemplo, em que eu ia para o centro de Bêagá e, ao atravessar a passarela da Avenida Cristiano Machado, próximo à Feira dos Produtores, passa por mim uma tremenda loura, alta, blusa estampada, calça jeans justíssima valorizando as curvas do seu belo corpo, cabelos longos e amarrados atrás num “rabo-de-cavalo” muito charmoso, olhos azuis num rosto lindíssimo e brincos de argolão dourado. Uma verdadeira potranca! Ela passa por mim, repito, e se dirige em passos rápidos ao extremo da passarela.

Senti a presença do Vilaça, seu sorriso brejeiro e o vozeirão dizendo:-

“- Égua de general!” ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 11/05/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 11/05/2011
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2964023
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