BOM EXEMPLO

Dirigi-me hoje a uma Agência do INSS aqui em Belô, onde precisava obter cópia do processo administrativo da minha aposentadoria, exigido pelo meu advogado. Eu até possuía um “CD” com tais informações, mas o dito cujo sumiu e novo agendamento foi feito, só que para ser-me entregue em 28/06/11.

Querendo ganhar tempo, fui lá e logo me atendeu um zeloso funcionário daquele setor. Expliquei-lhe a situação e argumentei que, como meu processo já estava informatizado no sistema, talvez ele pudesse atender antes do prazo agendado pois o advogado e eu tínhamos pressa na papelada. Seria apenas mais uma cópia do “CD”. O moço pediu um tempo e dirigiu-se para os fundos da seção, por detrás de umas divisórias. Fiquei ali numa cadeira, rezando para a Vó Benedita a fim de que tivesse êxito na minha empreitada.

Não demorou muito e o moço veio lá de trás das divisórias com o “CD” dentro de um envelopinho, preencheu um protocolo de recebimento e pediu minha assinatura. Quase não acreditei no que estava acontecendo e lembrei-me da enorme burocracia do INSS, tempos atrás, nessas questões de aposentadoria (a minha, na época, levou quase dois anos pra sair e hoje é rapidinho).

Assinei sorridente o protocolo, agradeci e, discretamente, ofereci-lhe uma nota de R$10,00 (dez reais), dizendo:-

“- Olha aí, meu amigo, pra você tomar uma cervejinha, ok?” – e ele, na maior categoria, respondeu-me gentil e cortesmente:-

“- Não, senhor, nada disso! O senhor me deve apenas R$1,00 pelo fornecimento do “CD”. Eu não fiz nada demais, é o meu serviço, estou aqui para tanto. E o governo me paga muito bem para fazer isso, meu senhor! Obrigado.”

Fiquei pasmo, agradeci e parabenizei-o pela conduta ilibada, sentindo-me até um pouco envergonhado na tentativa de gratificá-lo. Guardei o “CD”, girei nos calcanhares e desci as escadas que me levariam à rua, já pensando em seguir direto para o escritório do advogado lá na Cidade Jardim. Assim o fiz.

Contei o ocorrido ao Dr. Gustavo, o qual ponderou:-

“- Incrível, Sr. Roberto, brilhante a conduta desse funcionário. Olha que isso é muito raro hoje em dia, sabe? Hoje o que se vê é só tentativa de locupletação, é corrupção daqui e dali, é tráfico de influência, é comissionamento, é golpe de tudo quanto é jeito. Brasília e aquele pessoal engravatado dos gabinetes, dos corredores palacianos e das maracutaias de lá deveriam se mirar no exemplo desse funcionário do INSS daqui.”

Balancei a cabeça afirmativamente, ergui-me, apertei a mão do Dr. Gustavo na despedida e tomei o rumo de casa, já matutando no texto desta crônica.

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B.Hte., 11/05/11