LÁGRIMAS DE BRONZE
Manhã de domingo, dia ensolarado, passeava pela Afonso Pena (Belo Horizonte), feira hippie, as pessoas formigavam, admirando o conteúdo das barracas. É mesmo coisa boa a se fazer num dia desses. De repente deparei com uma plateia a contemplar uma estátua de bronze. Aos pés da estátua, uma criança. Uma dessas pedintes, com sua caixinha de esmolas nas mãos. A criança observava atenta, admirada inerte; quase não se continha.
Pude notar que lentamente a estátua se movia e seus movimentos eram graciosos, arrancando suspiros do público, que em troca lhe ofertava alguns trocados, o cachê do artista, que com gestos agradecia a cada quantia recebida.
Cortou-me o coração ao ver a sensibilidade do garoto, que emocionado tentava a todo custo retirar uma moeda da sua caixa de esmolas, lacrada em forma de um cofrinho. Enquanto relutava para abri-la, lágrimas lhe escorriam pelo pequeno rosto. Depois de algumas tentativas, vendo que não conseguiria abrir a caixa, usou de toda sua força, rasgando-a. Dentro dela apenas uma moeda de cinquenta centavos. Sob o olhar atento de todos, comovido, apanhou a moeda, caminhou até a estátua e deixou ali sua contribuição: a sua única moeda! Satisfeito e convicto como quem brinca em um parque de diversão. Neste momento duas lágrimas escorreram pela face da suposta fria estátua, que agradecida fez reverência, demonstrando toda sua modéstia e nobreza.
Então as lágrimas ao se desprenderem do rosto do artista caíram no fundo da caixinha, a qual o menino segurava como fosse um baú onde guardava seu tesouro.
As gotas tinham a cor do bronze. Não houve quem não se comovesse diante de tão nobre cena.
A arte em contraste com a vida real foi mesmo comovente! Enquanto o artista continuava em sua performance, pude ouvir aquela vozinha ainda ao longe:
— Dá uma ajudinha aí, moço!
Saulo Campos
Itabira MG