Maria Rita: a Santa Dulce
Naquele tempo - In illo tempore - os santos eram eleitos pelo povo, em pleito direto. A comunidade se reunia e avaliava o comportamento do candidato a um lugar na Corte Celestial. Com a comprovação de suas virtudes, os bispos se reuniam e reconheciam sua santidade.
A canonização obedecia, portanto, a um procedimento local; sem a interferência do Vaticano. Foi assim nos primeiros séculos do cristianismo.
Os livros dão conta de que somente a partir de 1234, com o Papa Gregório IX no comando da Igreja, a canonização passou a ser uma decisão exclusiva da Mitra Petrina.
Agora, o cidadão e a cidadã, para terem sua santidade decretada pelo Sumo Pontífice, o que vale dizer reconhecida pela Igreja, têm que percorrer um longo caminho.
O processo de canonização deve seguir as normas estabelecidas na Constituição Apostólica, do Papa João Paulo II, intitulada Divinus perfectionis Magister.
O que aconteceu com Karol Vojtyla, beatificado em tempo recorde, considerou-se uma exceção. Chamou tanto a atenção, que o Vaticano vem procurando explicar o porquê desse privilégio, tão bem administrado pelo inflexível e cauteloso Bento XVI.
Fontes da Santa Sé lembram, inclusive, que "nos últimos dez séculos nenhum papa elevou às honras dos altares o seu imediato predecessor..."
A mesma sorte não teve, por exemplo, o Padre Ibiapina, o Peregrino da Caridade, como foi chamado, sacerdote nascido no Ceará em 1806 e morto em 1883.
O processo de sua canonização não anda; há décadas encontra-se perdido nos socavões do Vaticano.
Leiam, por favor, a história desse caridoso missionário cearense e verão que, a exemplo de outros, que pelas mãos dos pobres foram canonizados, sua santificação também se impõe.
Muito bem. A Bahia se prepara para a beatificação de uma de suas mais ilustres filhas: Irmã Dulce. Deverá acontecer, em Salvador, ainda este mês.
Não podia deixar de aplaudir a Igreja católica pelo reconhecimento oficial das excepcionais virtudes dessa caridosa freirinha, que pode vir a ser a primeira santa genuinamente brasileira.
Santa Paulina morreu no Brasil, no Brasil foi canonizada, mas nasceu na Itália.
Na Bahia, não há um pobre - e chamo aqui de pobre aquele que só tem a coragem e cara - que não guarde uma boa lembrança de Irmã Dulce e a venere como se uma santa ela fosse.
Pelo seu incansável e devotado trabalho de assistência aos desvalidos, ela é chamada de O Anjo Bom da Bahia.
Os que conhecem sua obra chegam a compará-la - guardadas naturalmente as devidas proporções - a Madre Tereza de Calcutá.
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes era o seu nome antes de ingressar na Ordem religiosa à qual foi fiel a vida toda.
Baiana de Salvador, Irmã Dulce nasceu no dia 26 de maio de 1914 e morreu no dia 13 de março de 1992.
Está enterrada na capela do hospital que construiu, e que continua atendendo os pobres da Bahia e de Estados vizinhos que, diariamente, chegam à Boa Terra pedindo socorro.
Em apenas uma oportunidade vi Irmã Dulce.
Eu era Procurador do Estado junto à Secretaria da Fazenda da Bahia e ela apareceu no gabinete do secretário pedindo uma ajuda para o seu hospital.
Apesar de muito discreta nas suas aparições, ela, sempre de hábito, chamava a atenção, envolvia, comovia. Todos queriam cumprimentá-la, nem que fosse de longe.
Acredito, piamente, que se a canonização de Irmã Dulce dependesse, como In illo tempore, do voto popular, com a maior facilidade ela chegaria aos altares do mundo.
Quero, por último, fazer uma pergunta: a eleição, hoje, de um santo pelo voto do povo daria certo?
Creio que não. Um político corrupto, mas com muito prestígio na paróquia, na comunidade, terminaria, com uma manobra marota, elegendo um seu correligionário, compromentedo, seriamente, o processo da canonização.
Corria-se, pois, o risco de ver, aboletado nos altares, santos com um Curriculum Vitae nada recomendável.
Como, então, pedir a intercessão ou venerar um santo ficha suja? É melhor deixar o Papa falar.
Naquele tempo - In illo tempore - os santos eram eleitos pelo povo, em pleito direto. A comunidade se reunia e avaliava o comportamento do candidato a um lugar na Corte Celestial. Com a comprovação de suas virtudes, os bispos se reuniam e reconheciam sua santidade.
A canonização obedecia, portanto, a um procedimento local; sem a interferência do Vaticano. Foi assim nos primeiros séculos do cristianismo.
Os livros dão conta de que somente a partir de 1234, com o Papa Gregório IX no comando da Igreja, a canonização passou a ser uma decisão exclusiva da Mitra Petrina.
Agora, o cidadão e a cidadã, para terem sua santidade decretada pelo Sumo Pontífice, o que vale dizer reconhecida pela Igreja, têm que percorrer um longo caminho.
O processo de canonização deve seguir as normas estabelecidas na Constituição Apostólica, do Papa João Paulo II, intitulada Divinus perfectionis Magister.
O que aconteceu com Karol Vojtyla, beatificado em tempo recorde, considerou-se uma exceção. Chamou tanto a atenção, que o Vaticano vem procurando explicar o porquê desse privilégio, tão bem administrado pelo inflexível e cauteloso Bento XVI.
Fontes da Santa Sé lembram, inclusive, que "nos últimos dez séculos nenhum papa elevou às honras dos altares o seu imediato predecessor..."
A mesma sorte não teve, por exemplo, o Padre Ibiapina, o Peregrino da Caridade, como foi chamado, sacerdote nascido no Ceará em 1806 e morto em 1883.
O processo de sua canonização não anda; há décadas encontra-se perdido nos socavões do Vaticano.
Leiam, por favor, a história desse caridoso missionário cearense e verão que, a exemplo de outros, que pelas mãos dos pobres foram canonizados, sua santificação também se impõe.
Muito bem. A Bahia se prepara para a beatificação de uma de suas mais ilustres filhas: Irmã Dulce. Deverá acontecer, em Salvador, ainda este mês.
Não podia deixar de aplaudir a Igreja católica pelo reconhecimento oficial das excepcionais virtudes dessa caridosa freirinha, que pode vir a ser a primeira santa genuinamente brasileira.
Santa Paulina morreu no Brasil, no Brasil foi canonizada, mas nasceu na Itália.
Na Bahia, não há um pobre - e chamo aqui de pobre aquele que só tem a coragem e cara - que não guarde uma boa lembrança de Irmã Dulce e a venere como se uma santa ela fosse.
Pelo seu incansável e devotado trabalho de assistência aos desvalidos, ela é chamada de O Anjo Bom da Bahia.
Os que conhecem sua obra chegam a compará-la - guardadas naturalmente as devidas proporções - a Madre Tereza de Calcutá.
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes era o seu nome antes de ingressar na Ordem religiosa à qual foi fiel a vida toda.
Baiana de Salvador, Irmã Dulce nasceu no dia 26 de maio de 1914 e morreu no dia 13 de março de 1992.
Está enterrada na capela do hospital que construiu, e que continua atendendo os pobres da Bahia e de Estados vizinhos que, diariamente, chegam à Boa Terra pedindo socorro.
Em apenas uma oportunidade vi Irmã Dulce.
Eu era Procurador do Estado junto à Secretaria da Fazenda da Bahia e ela apareceu no gabinete do secretário pedindo uma ajuda para o seu hospital.
Apesar de muito discreta nas suas aparições, ela, sempre de hábito, chamava a atenção, envolvia, comovia. Todos queriam cumprimentá-la, nem que fosse de longe.
Acredito, piamente, que se a canonização de Irmã Dulce dependesse, como In illo tempore, do voto popular, com a maior facilidade ela chegaria aos altares do mundo.
Quero, por último, fazer uma pergunta: a eleição, hoje, de um santo pelo voto do povo daria certo?
Creio que não. Um político corrupto, mas com muito prestígio na paróquia, na comunidade, terminaria, com uma manobra marota, elegendo um seu correligionário, compromentedo, seriamente, o processo da canonização.
Corria-se, pois, o risco de ver, aboletado nos altares, santos com um Curriculum Vitae nada recomendável.
Como, então, pedir a intercessão ou venerar um santo ficha suja? É melhor deixar o Papa falar.