“Fome de dinheiro”

Pouco se fala da fome de dinheiro neste país. O processo inteiro é conhecido, mas desprezado pela maioria. A fome de dinheiro tem tratamento calado nos testemunhos do Deus-televisão. Ninguém estuda a fome de dinheiro no indivíduo. Todo mundo estuda o mercado do dinheiro. Mundo maquiado acredita que a fome de dinheiro inexiste. Um homem faminto de dinheiro é atormentado compulsivo. É um soldado sem armas em meio ao ataque cruel das visões de consumo. Nossa sociedade treina os homens para disfarçar essa fome e essa compulsão. Falar sobre dinheiro sem dinheiro é coisa muito feia.

Muita gente reclama do sujeito que recebeu uma fortuna e agora está vazio. Mas ninguém pergunta quanto tempo ele viveu sem. O gasto sugere a mesma proporcionalidade. Fenômeno simples e pouco estudado.Todos reclamam que as drogas ocupam o lugar do homem no trabalho, homem máquina do estado. Ninguém liga o fato ao vício mal saciado do dinheiro das criaturas em busca de subjetividade própria. A violência que causa o impacto, todo mundo olha para a variável do resultado. O dinheiro não é a droga do pobre.

A desgraça e o crime que se liga a busca irrefreável do dinheiro ninguém vê. A completa falta de expectativa. A história da miséria. Os ciclos pessoais inteiros de recusa. O nada solene legado dessa ausência no gene da pobresa. O dinheiro não paga a sua própria ausência.

O custo da ausência de dinheiro no homem é devastador. (Silêncio, ninguém diz nada) O orador escorrega na casca de banana da loquacidade, dando voltas para ocultar o fator dinheiro no bolso do indivíduo. Dinheiro que ele tem de sobra. Dinheiro para viver, dinheiro para gastar, dinheiro para circular. Mas quem faz circular dinheiro é pobre. Novamente injustiçado. Ganha para gastar. Acúmulo é cinismo. Para o pobre todo rico decadente é um herói que enriqueceu o próximo vivendo o seu dinheiro. Serve de exemplo. Nobre jamais divide, adverte a impessoalidade.

Pobre doa tudo. Vender o quê? Segue transmigrando a conta.

As igrejas não convidam os fiéis a movimentar o seu dinheiro, exceto... O acúmulo oculto do dinheiro alheio no país rico é feito (efeito e defeito) de gente pobre rezando para esquecer. Tudo esquecer. Felicidade é esquecimento. Deus que te dá... O boi que te deu. Quem nunca teve fome de dinheiro? No mundo polido ninguém teve. Nem tem. Tem cartão para ocultar a ideia de que vivemos sem ele. Dinheiro arrancado do trabalho alheio. Trabalho escravizado pelo dinheiro. Sem trabalho o dinheiro inexiste. Quem gosta de dinheiro sem trabalho é bandido. (Mentira em parte). Examinando bem há dinheiro de sobra nas cuecas, nas meias, nos pomposos gabinetes e nas representatividades globais. Dançam marajás sobre fortunas. Agitam seus diamantes. Divertidos são os jogos malabares, os artistas triviais.

“Fome de dinheiro” manchete jamais publicada. Tem a magia da loteria... A última moeda dilapidada era do pão das crianças e acabou na loteria federal. Multidão faminta prefere viver intensamente o pequeno tempo de prazer que tem com o dinheiro. Perdeu muito da vida que os outros sonharam. Dinheiro que nunca sobra. Aanda agora com suas pernas em busca do mundo. Escravos da necessidade fugidia. Explorados pela moral da utilidade constante na sociedade de advertência. O homem ferramenta quebrada, mas útil.

Os famélicos pisam a terra riquíssima. Esquecidos. Vivem neste país riquíssimo. Todos os jogos, todos os programas, toda a arte ilusória retira qualquer hipótese de dinheiro em seu único ciclo de vida. Depois gritam, matam, vendem drogas, assustam as ruas. Gerações de regredidos famintos de dinheiro. Psicopatas produzidos na origem da falta. Filhos da promessa social. Criaturas que apenas sonharam viver no mundo índio.

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A reação: está faltando gente estruturada para trabalhar...

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Viva o pós-tradicionalismo e a vedete

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 10/05/2011
Código do texto: T2960563
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