EU HOJE CONHECI ILANA...

Certas pessoas nos aparecem do nada e, aparentemente, sem um motivo que justifique tal “intromissão” em nossa vida. Hoje, por exemplo, aconteceu comigo.

Vindo para o centro da cidade, foi-me oferecida uma carona por um grande amigo, o Ângelo, um engenheiro com quem troco idéias há algum tempo, principalmente acerca de um projeto no qual estamos envolvidos: a construção de um hospital militar em Florianópolis. Após a minha entrada no carro, fui apresentado aos filhos do meu amigo e, nos poucos momentos que duraram a pequena viagem a conversa correu solta. Desembarquei no centro e a jovem Ilana também desembarcou ali.

Nas poucas centenas de metros que caminhamos juntos, do local onde desembarcamos até o meu destino no centro, continuamos a conversar. Expliquei a ela a origem da minha amizade com seu pai (a construção do hospital) e ela, em princípio e por questões ambientais, disse não concordar com a obra. Com a contraposição do meu argumento de que, levando-se em conta a relação custo benefício, Ilana foi condescendente e reconheceu que as vantagens a serem obtidas talvez venham a justificar a construção. Não fez esforços e creio que não tenha abandonado seus princípios para aceitar a idéia que, até aquele momento, não via com bons olhos.

Além da natural empatia que senti pela jovem, por ser filha de um amigo, chamou-me a atenção sua invulgar inteligência e capacidade de expressão, de uma rara clareza. As palavras, tanto da sua parte quanto da minha, saiam rápidas, com vontade de colocarmos idéias na conversa. Fiquei sabendo (ao perguntar-lhe sobre sua formação) que tinha iniciado o curso de medicina tradicional e, após algum tempo, optou por meios mais, digamos, orientais daquele ramo. Chamou-lhe a atenção a acumpuntura e a medicina natural, oriundas da China e da Índia. Está se desenvolvendo nesse campo e, pelo pouco que conversei com ela, acredito que está se formando, naquela frágil jovem, uma profissional de futuro, responsável que se me pareceu.

Outro ponto que destaco foi a nossa uniformidade na maneira de pensar, a confluência de maneiras de ver o mundo e suas coisas. Um cara de 64 anos, conversando com uma quase menina de 24, 25 anos, pensando parecido. A natureza das minhas amizades, pessoas da minha faixa etária e de nicho social muito afim, conduzem minha maneira de pensar. Como tenho o saudável hábito de conversar muito, as pessoas que me cercam influem na condução da maioria dos meus pensamentos. Tenho, em virtude desse intenso relacionamento e embora com uma variada gama de assuntos, uma natural restrição de conhecimento do que anda verdadeiramente acontecendo com o pensamento jovem, o que pensa essa geração que aflora nos dias de hoje. Quando muito, colhemos as impressões mútuas sobre o que achamos que eles pensam, ou nos motivos que os levam a agir como agem. Esquecemo-nos, ou nem mesmo pensamos nisso, de saber o quê é que se passa nas cabeças deles. Com as palavras e colocações deles próprios. Não sei se é por falta de oportunidade (como a excelente que tive hoje), de interesse ou de impaciência – de ambos os lados, mas não estamos ouvindo a “outra margem do rio” e nem nos dando a conhecer. Impera, talvez, um medo da exposição?

Acostumamo-nos, por exemplo, a reclamar da incompreensão que campeia entre as gerações. Mas o que é que andamos fazendo para mudar tal “status-qüo”? Abrimos nossas portas para permitir a entrada de alguém que talvez não pense como a gente? E, se as abrimos, somos autênticos? Podemos ter o direito de achar que corremos o risco de esbarrar no ridículo? O quê será, pensamos, que irão pensar os circunstantes de uma animada conversa entre um cara de 64 anos e uma bela jovem (é bonita, a Ilana) pelas ruas da cidade? Esses preconceitos impedem, também a existência de oportunidades para acontecer o que hoje se passou comigo. Bom que eu não perdi a oportunidade.

Prazer em te conhecer, Ilana. E obrigado pelos poucos (mas proveitosos) momentos nos quais pude conhecer alguém que, apesar dos 40 anos que nos separam (ou seriam os 40 séculos que Napoleão, sobre as pirâmides, disse que nos contemplam?) conseguiu surpreender-me muito positivamente.

Meu abraço e meus respeitos.

PETROCCHI
Enviado por PETROCCHI em 10/05/2011
Código do texto: T2960524