ESTRANHOS E FAMILIARES COMPORTAMENTOS

Por que algumas pessoas sentem prazer em se sentir controladas? O fato do (a) companheiro (a) ser compreensivo, confiar, parece que passa a ser considerada indiferença.A partir do momento que algumas pessoas, numa relação de casal,apresenta o poder, o controle, o querer saber para onde vai, com quem vai, o que vai fazer, sinaliza que é indício de interesse, cuidado, zelo, amor, posse , ciúme.

Lembro de uma jovem que dizia: “Meu pai controla tudo; rasgou até um livro do Círculo do Livro – O Homem em busca de si mesmo, porque havia um homem nu na capa. Outra vez rasgou uma revista, porque descobriu que havia um artigo sobre sexo.” Prossegue ela em sua fala, tentando mostrar que a atitude do pai era intolerável, já que ela era de maior, fazia faculdade e trabalhava.Ele lhe dizia que enquanto comesse do seu pão, tinha que rezar em sua cartilha. Fala: “Odeio meu pai! Sonho com ele morrendo. É um sonho recorrente. Freud não disse que sonho é a realização de desejo? Acordo e fico com culpa. Ao sentir culpa tento der boazinha, embora ele diga, constantemente, que eu ainda vou acabar matando-o. Até quando namoro ele fica me vigiando o tempo todo. Meu namorado, por sua vez, também me vigia. Eu gosto! É um caso para estudo.” Fico pensando que o ser humano se faz através das identificações. A garota foi buscar no namorado o modelo do pai.

A relação familiar, relação da filha com o pai, relação do garoto com a mãe, é muito complexa. A Psicanálise foi buscar, na tragédia grega, o Édipo e, ao estudar o seu complexo, foi fazendo esclarecimentos sobre as preferências da menina pelo pai e do menino pela mãe. Fazer a travessia desse complexo, vai gerar comportamentos saudáveis, ou não, em relação aos futuros parceiros. Quase tudo no homem tem a ver com seu passado. Muitas vezes sabe que toma atitudes que não gostaria, mas não sabe fazer diferente e repete comportamentos que, no fundo do seu ser, sabe que vai cometer o mesmo erro. As pessoas só mudam quando se dispõem a mudar. Para quebrar esse fazer sem gostar, só mesmo se dando conta desse comando inconsciente, que determina muito além das ações conscientes, muito além dos propósitos, da vontade de mudar. O nível é mais profundo. O desejo de mudança só se concretizará com ajuda psicológica ou psicanalítica para, no baú de sua história, onde estão contidas as trilhas das emoções vivenciadas em seu processo de desenvolvimento ,chegar a descobrir algumas causas que determinam o seu agir e, a partir daí, ressignificar outras formas de ação.

Quem dá conta desse ser humano? Enquanto vivemos e somos tidos como normais, não estaremos livres de conflitos, de emoções tempestuosas, de incompreensão diante de atitudes, por vezes incompreensíveis da gente e do outro. Viver é mesmo um constante desafio.

Dizia uma amiga diante de uma separação dolorosa: “O mundo é para os fortes.” Só o velho tempo ia fazer com que se recuperasse da desilusão e partisse para novos desafios. Sobreviveu e deve ter vivenciado outras perdas, outros sofrimentos, mas também muitos encantos, muitas alegrias e muitas paixões. Nesta vida nada garante o sucesso da vida afetiva. O controle sobre a nossa vida talvez seja um passo para o resgate da individualidade e a tão sonhada liberdade. Será que é isso mesmo que queremos ou desejamos mesmo a felicidade? Onde ela anda?

Edméa
Enviado por Edméa em 09/05/2011
Reeditado em 23/05/2011
Código do texto: T2959315