MEUS PÉS DE JASMIM-MANGA

Plantei, tempos atrás, no jardim da minha casa, um pé de jasmim de manga. Sabia e tinha toda a certeza de que teria uma árvore de porte, com flores resistentes, de doce perfume, com o centro delas em um amarelo em tom pastel, clareando para as bordas e de um suave quase branco nas pontas. Belas, as flores parecem feitas de plástico.

Eu tenho uma boa relação com a minha árvore. Gosto de sentar-me debaixo dela para ler minha revista semanal. Generosa e farta em folhas e flores durante grande parte do ano, ela perde todos os pendulifólios e pendulifloros no auge do inverno para, depois, voltar com toda a força no início do verão. Acredito que ela tenha um acordo tácito com a natureza, dando-me sombra no verão e deixando o sol passar completo por entre seus galhos quando o tempo está mais frio. Quando as folhas começam a cair, eu as recolho todas, assim como faço com as flores, que despencam ainda viçosas. Deixo que ela reine absoluta no pedaço de gramado no qual habita.

Algum tempo depois plantei por ali uma irmã da espécie, esta com flores de uma cor que não é primária. Elas não são somente “vermelhas” ou “cor-de-rosa”. Para descrever a cor tenho que usar mais de uma palavra, pois pode ser que seja púrpura intensa, numa aproximação entre o vermelho e o rosa. Um certo tom “baton” Estranhamente não é pródiga em perfume com a sua parente e vizinha. Mas é, também, uma bela árvore.

Embora não me considere dono desses vegetais, tenho uma espécie de poder sobre eles. Posso podá-los, dirigir-lhes o crescimento e dar-lhes a forma que eu quiser que tenham. Dou-me o direito, até, de tentar mudar-lhes a individualidade que possuem. Estou, no momento, na fase de tentar enxertar pequenos galhos daquela que produz flores púrpura na sua parente mais antiga. Não tenho nenhum conhecimento de como se faz isso, mas a cada ano tento modificar a natureza. Como ambas possuem um caule e uma casca leitosos, parece-me ser possível manter um pequeno galho vivo na planta que o irá receber. Sei que um dia vou conseguir.

Elas seguem ali, apenas cumprindo o que o seu “destino vegetal” a elas legou.

Permito-me, nesse ponto da conversa, estabelecer uma relação do que estou fazendo com as minhas árvores o que, quase sempre, tentamos fazer com os que nos rodeiam. As outras pessoas têm sua maneira de ser, o jeito próprio de cada um levar a vida. Nós, num até meio que inconsciente sentimento de “posse”, tentamos modificar os que nos são caros, para que sejam o mais parecido com aquilo que consideramos ideal “para elas”. Uma ova... Projetamos o que elas poderiam parecer de melhor para aquilo que queremos e não lhes respeitamos a individualidade. E toca a tentar modificar o outro. Damos palpites, demonstramos descontentamento, corrigimos, expressamos até mesmo o desprezo ou a indiferença se elas não estão como desejamos. Mas, sejamos justos, acredito que a recíproca, no caso, é verdadeira.

Mas é difícil. Se as coisas não estão como as imaginamos, a última providência que adotamos é compreender-lhes as razões, conceder-lhes o direito de ser como são. No íntimo, todos queremos o que é ideal apenas para nós. Coisa triste o ser humano.

Até mesmo para pensar como estou pensando agora: vou continuar tentando que o meu pé de jasmim de manga de flores brancas possa, um dia, produzir também flores de cor púrpura. E, se possível com o mesmo perfume...

Serei mais feliz com isso? Egoisticamente, penso que sim...

PETROCCHI
Enviado por PETROCCHI em 09/05/2011
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