NITERÓI,UM MUNICÍPIO DIFERENTE ,
COM UMA ESCOLA DIFERENTE,
NUM PARQUE DIFERENTE
Não sou nascida nesta cidade,mas aqui resido desde criança,nela tendo recebido toda a minha formação moral,intelectual e cultural.A ela,pois,devo muito do que sou.E,talvez, pelo amor que lhe dedico e talvez também pelo muito que aqui tenho feito, principalmente na minha missão de educadora por quarenta e quatro anos,dela recebi o Título de Cidadã Honorária Niteroiense,do qual muito me orgulho, sentimento este que procurei deixar registrado nesta pequenina trova:
“Niterói, eu te agradeço
este título honorário
e prometo a todo preço
torná-lo meu relicário.”
Nictheroy- assim se escrevia seu nome,de origem indígena,e que significa “Água Escondida”-já foi capital de Estado:o Estado do Rio de Janeiro.
Com uma área de cento e trinta quilômetros quadrados,seus primeiros colonizadores foram genoveses e portugueses,participantes da expedição de Estácio de Sá,que expulsou os franceses em 1564.
Niterói,cujo aniversário se festeja em 22 de novembro,foi fundada pelo cacique Araribóia,o “Cobra Feroz”,chefe dos Temiminós,que recebeu a sesmaria em 1568,mas só ocupou em 1573.
Com seus 460 mil habitantes,é considerada a melhor cidade do Estado em qualidade de vida e em quarto lugar no País.No setor do ensino,segundo pesquisas divulgadas pela ONU em setembro/98,a cidade encabeça a lista dos municípios de maior índice de Educação do país.
Niterói é uma cidade dotada de inúmeras belezas naturais,feitas pela mão do Criador,como por exemplo a sua orla marítima,formada de belíssimas praias.E é também dotada de grande beleza artificial, feita pela mão do homem, tais como igrejas,museus, fortes,monumentos,estádios,praças,clubes e um sem número de escolas,possuindo até uma Universidade Federal:a Universidade Federal Fluminense,além de várias outras particulares.
Não me sendo possível,pela exigüidade de espaço, discorrer com detalhes sobre todas essas belezas, destacarei aqui apenas uma:a escola onde fiz o meu Curso Primário,nos idos da década de trinta.
Uma escola diferente...
E diferente por quê?
Considero-me uma pessoa privilegiada por ter estudado ali,um colégio diverso de todos os padrões de ensino que já conheci,na qualidade de aluna e, depois,professora que fui durante tão longo tempo.
O Grupo Escolar Joaquim Távora- este era o seu nome -era uma escola pública estadual,com um alto padrão de ensino,e bastante moderno para a sua época,sendo considerado o melhor no município e, quiçá,no Estado.
Situado em uma belíssima praça toda arborizada,a maior área verde e principal parque da zona sul da cidade,o colégio era cercado de pés de eucalíptos centenários que lhe emprestavam um ar de austeridade,mas sem nunca assustar os alunos; havia também palmeiras altíssimas,que pareciam vergar a qualquer momento e havia ainda inúmeros canteiros de diferentes feitios com uma enorme variedade de flores,alegrando o seu ambiente.
O Campo de São Bento,nome pelo qual é conhecida esta praça, constituía uma área quase despovoada ao final do século.No início do Império, D. Pedro e a Imperatriz Leopoldina nele acampavam para assistirem aos exercícios militares.
Sua urbanização começou no meio deste século e, atualmente,é tombado por força de Lei,desde 1990.
Junto a suas árvores centenárias,o Campo de São Bento possui um enorme lago,onde existe um chafariz,um dos maiores da América Latina.
Hoje,por motivos óbvios,infelizmente,o meu Campo de São Bento é todo cercado de grades,fato este que tirou muito da sua beleza original.
Uma pena!
Mas,voltando a minha escola...
Por que era ela tão diferente?
Simplesmente porque ali as aulas eram ministradas ao ar livre,em bosques. Não havia paredes artificiais e frias; havia apenas as cercas de cedrinho, arredondadas, que formavam os bosques:as nossas “salas de aula”.Os tetos eram as copas das árvores, que nos protegiam do sol e,através das quais,nós vislumbrávamos o céu, e onde os pássaros, cantando, nos acompanhavam nas lições, como se fossem nossos coleguinhas.
Diariamente,pela manhã,funcionários da escola colocavam nos bosques as carteiras, os quadros-negros,as cadeiras e mesas das professoras,que,à tarde,eram recolhidos e guardados em lugares apropriados.Quando chovia,as mestras ministravam suas aulas-para todas as turmas ao mesmo tempo- em um enorme ginásio, uma das pouquíssimas construções ali existentes.E, quando inesperadamente caía a chuva,nós mesmos,os alunos,fazíamos este transporte, o que era bastante divertido.
Como se pode perceber,a “minha escola” era bem diferente.Os alunos não fugiam,apesar de não existirem paredes, portas e cadeados; não “matavam” aulas e poucas vezes recebiam algum castigo. E mais: não eram assaltados,seqüestrados nem assassinados, como se vê acontecer nos dias de hoje com tanta freqüência.
E por estar situada num local tão diferente,a essa escola tão diferente,situada num município tão diferente,e onde eu passei os melhores momentos de minha vida,eu dediquei esta trova que aqui transcrevo,encerrando a minha crônica:
“No meu Campo de São Bento,
junto a seu verde esperança,
deixei saudoso momento
de meu tempo de criança".
Niterói,abril/1999
(Crônica)
Notas:
01-Esta crônica foi classificada em 1º lugar (Medalha de Ouro), no Concurso Literário de Poesia e Crônica promovido pela ABRACE-RJ ( Arcádia Brasílica de Artes e Ciências Estéticas) em novembro de 1999, cujo tema era: “ Municípios Brasileiros”.
02-Publicada aqui em homenagem ao município de Niterói no 433º aniversário de f undação: 22 de novembro de 2006.