MEDO DE AVIÃO
Dias atrás li, em certo jornal, que um honorável deputado baiano, recentemente eleito, não sobe em aviões nem levado pelas forças de altas mandingas. Faz o trajeto Salvador/Brasília/Salvador de carro! Enfrenta os reconhecidos desafios de 3000 km pelo chão, mas não voa! Devo dizer em sua defesa que grande parte das minhas amizades também receiam voar. Algumas, imbuídas desse sentimento fóbico extremo, outras não: essas, preferem dizer sentir apenas aquele friozinho na barriga, confessando também apreensão forte, mãos frias etc., mas arriscam.
Por isso não tiro a razão do nobre deputado. Embora digam que o transporte aéreo seja dos mais seguros a pessoa, solta a 10.000 metros de altura --- Deus livre e guarde --- mercê algum imprevisto...
Voei pela primeira vez em 1981. Goiânia/Porto Alegre. No embarque, as mãos suavam e tremiam tanto que não consegui prender o cinto de segurança! Confessei, então, constrangido a alguém próximo o meu “debut” como passageiro aéreo; educadamente ele me instruiu e tranqüilizou. Tudo ficou muito bem e acabei adorando a experiência.
Mas avião é fogo! E entre a metáfora e a imaginação não existe grande distância.
Ano passado, embarcando de Brasília para Maceió, levava comigo as palavras cruzadas . Entretém-me nas tediosas esperas. Avião parado, o pessoal se acomodava tranquilamente. Inesperado, um garoto em seus seis a sete anos desandou a chorar. A princípio queria descer; a mãe negou. Ante a recusa da mãe que agora tentava demovê-lo e por fim acalmá-lo, o menino se debatia e gritava para sair. Os minutos seguintes também foram inúteis. Minha curiosidade, atraída pelo fato, havia dobrado e abandonado a revista num compartimento próximo, concentrada agora sua atenção para o drama familiar, de onde despertaram os meus adormecidos temores.
“Choro de menino recusando prosseguir viagem?... crianças já anteviram outras tragédias... os bichinhos têm faro apurado... eu, hein!”
Não poderia ser premonição daquele diabinho? Poderia!
Nisso, o avião rodou rumo à cabeceira da pista e logo recebeu ordem de decolagem. O menino chorava enquanto atirava os doces que a aeromoça lhe dera.
Ao ronco ensurdecedor das turbinas competiam no interior os gritos desesperados do guri, antevendo com clara vidência a iminente queda da malfadada aeronave. Cochichos se espalharam.
“Esse avião vai cair, mãe!” Gritava e esperneava tentando se desvencilhar das mãos genitora.
Confesso que, por um momento não fiquei nada confortável naquele vôo; mas... nada mais podia ser feito! Senti, angustiado, os solavancos duros da aeronave por sobre as imperfeições da pista investindo velozmente rumo aos céus. Decolara!
Disse à minha mulher: “Agora, seja o que Deus quiser!” Alheia aos meus temores, devolveu-me: “O que você disse?”
“Deixa pra lá, dorme!” E apertei-lhe carinhosamente a mão, como na música do Belchior.
Dias atrás li, em certo jornal, que um honorável deputado baiano, recentemente eleito, não sobe em aviões nem levado pelas forças de altas mandingas. Faz o trajeto Salvador/Brasília/Salvador de carro! Enfrenta os reconhecidos desafios de 3000 km pelo chão, mas não voa! Devo dizer em sua defesa que grande parte das minhas amizades também receiam voar. Algumas, imbuídas desse sentimento fóbico extremo, outras não: essas, preferem dizer sentir apenas aquele friozinho na barriga, confessando também apreensão forte, mãos frias etc., mas arriscam.
Por isso não tiro a razão do nobre deputado. Embora digam que o transporte aéreo seja dos mais seguros a pessoa, solta a 10.000 metros de altura --- Deus livre e guarde --- mercê algum imprevisto...
Voei pela primeira vez em 1981. Goiânia/Porto Alegre. No embarque, as mãos suavam e tremiam tanto que não consegui prender o cinto de segurança! Confessei, então, constrangido a alguém próximo o meu “debut” como passageiro aéreo; educadamente ele me instruiu e tranqüilizou. Tudo ficou muito bem e acabei adorando a experiência.
Mas avião é fogo! E entre a metáfora e a imaginação não existe grande distância.
Ano passado, embarcando de Brasília para Maceió, levava comigo as palavras cruzadas . Entretém-me nas tediosas esperas. Avião parado, o pessoal se acomodava tranquilamente. Inesperado, um garoto em seus seis a sete anos desandou a chorar. A princípio queria descer; a mãe negou. Ante a recusa da mãe que agora tentava demovê-lo e por fim acalmá-lo, o menino se debatia e gritava para sair. Os minutos seguintes também foram inúteis. Minha curiosidade, atraída pelo fato, havia dobrado e abandonado a revista num compartimento próximo, concentrada agora sua atenção para o drama familiar, de onde despertaram os meus adormecidos temores.
“Choro de menino recusando prosseguir viagem?... crianças já anteviram outras tragédias... os bichinhos têm faro apurado... eu, hein!”
Não poderia ser premonição daquele diabinho? Poderia!
Nisso, o avião rodou rumo à cabeceira da pista e logo recebeu ordem de decolagem. O menino chorava enquanto atirava os doces que a aeromoça lhe dera.
Ao ronco ensurdecedor das turbinas competiam no interior os gritos desesperados do guri, antevendo com clara vidência a iminente queda da malfadada aeronave. Cochichos se espalharam.
“Esse avião vai cair, mãe!” Gritava e esperneava tentando se desvencilhar das mãos genitora.
Confesso que, por um momento não fiquei nada confortável naquele vôo; mas... nada mais podia ser feito! Senti, angustiado, os solavancos duros da aeronave por sobre as imperfeições da pista investindo velozmente rumo aos céus. Decolara!
Disse à minha mulher: “Agora, seja o que Deus quiser!” Alheia aos meus temores, devolveu-me: “O que você disse?”
“Deixa pra lá, dorme!” E apertei-lhe carinhosamente a mão, como na música do Belchior.